Por Paulo Ribeiro
O discurso contemporâneo sobre a Pessoa do Espírito Santo no
cristianismo popular é, na melhor das hipóteses, confuso. Apesar de as
declarações bíblicas sobre a natureza e a obra do Espírito serem
bastante claras no texto sagrado, a religiosidade do incauto insiste em
ignorar a sã doutrina e se apegar à superstição, à ensinos mentirosos e a
todo tipo de síntese que se estrutura na fusão do querigma cristão com
as práticas mágicas, pagãs, animistas.
Neste momento, um texto em particular será empregado para esclarecer o ensino bíblico sobre o assunto e, dessa forma, dissipar as tolices dos últimos dois séculos enxertadas na doutrina do Espírito.
(I) A Plenitude do Espírito
Antes de falarmos qualquer coisa sobre a plenitude do Espírito é necessário entendermos o significado dessa expressão. A plenitude do Espírito é um dos nomes que a Escritura atribui à obra de Deus pela qual um salvo tem o seu coração enchido pelo Espírito Santo, produzindo todos os efeitos que derivam dessa operação. O texto de Ef 5.18 menciona essa operação nos seguintes termos:
"E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei- vos do Espírito".
(II) O Agente da Plenitude
O Espírito Santo é uma Pessoa, e não um conceito ou uma energia. Por isso, um cristão não pode se encher do Espírito; ele precisa ser enchido. O agente que opera a plenitude no salvo é o próprio Espírito Santo, a terceira pessoa da Trindade. Mais uma vez o texto de Ef 5.18, seguido de uma importante observação exegética, mostra isso:
"E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei- vos do Espírito".
Diante do imperativo "enchei-vos" descrito no texto, é essencial ressaltamos que, nos textos originais, esse verbo encontra-se na voz passiva, de modo que notamos a agência divina nessa operação, bem como as pessoas RECEBENDO essa ação, e não a PRODUZINDO.
A conclusão de tal raciocínio é que, ao contrário do que se ouve costumeiramente, o Espírito não pode ser manipulado por ninguém e nem tampouco é o homem, por suas obras de piedade, que determina ao Espírito o quanto este deverá enchê-lo. Tal como a salvação é uma obra monergista do começo ao fim de sua aplicação, a obra do Espírito pela qual ele nos enche de si mesmo não poderia se iniciar por nosso esforço (Fp 2.13).
(III) As Causas Instrumentais da Plenitude
A Escritura mostra as causas instrumentais mediante as quais o Espírito de Deus enche os corações e mentes dos salvos. Observe o texto de Ef 5.19-21:
"... falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, sujeitando- vos uns aos outros no temor de Cristo.".
Esse trecho pode ser fracionado em cinco lições principais. A primeira delas é que a Escritura desempenha um papel fundamental na operação da plenitude. O saltério resume, de certa forma, o conteúdo do Antigo Testamento de modo que o "falar entre vós com Salmos" equivale a utilizar a Escritura como conteúdo de reflexão contínua e instrumento absoluto pelo qual se pode aquiescer à verdade. O texto paralelo de Cl 3.16, entre um montante infindável de passagens da Bíblia, confirma a relevância primordial da Escritura como ferramenta do Espírito na santificação e preservação dos filhos de Deus na fé.
A segunda lição aponta para as expressões de louvor e gratidão que devemos elevar a Deus, seja em música, seja em oração, seja em atitudes. Neste caso em particular, faz-se referência à música como conduinte dessas expressões, mas isso deve ser encarado muito menos como uma orientação restrita do que na qualidade de uma afirmação metonímica: a música expressa o louvor e a adoração ao Deus criador, mas as orações e atitudes também fazem isso, com a diferença de que podem ser feitas incessantemente, ao contrário da música, cuja produção sujeita-se à conveniência de local ou horário.
A terceira lição se refere ao aprofundamento da consciência no evangelho em virtude da qual nos tornamos capazes de agradecer POR TUDO a Deus. Só é possível agradecermos sinceramente a Deus pelos momentos de angústia e provação que Ele nos proporciona quando estamos plenamente cônscios de sua soberania e cuidado sobre nossas vidas. Mais do que isso, quando estamos convictos de que somos seus filhos e que nada pode nos separar de seu amor.
A quarta lição diz respeito à sujeição mútua, que se baseia no maior exemplo de sujeição concebível: a sujeição de Cristo em sua humilhação. Na economia da redenção, o Deus-Filho se fez carne e sujeitou-se ao Pai e à missão salvadora a qual se propôs efetuar (Fp 2.5-8). Tal sujeição não é de maneira alguma ontológica, mas puramente econômica. E por tal esvaziamento visto em Jesus somos constrangidos a nos "esvaziar" de nosso próprio ego e vontade a fim servirmos ao próximo.
Finalmente, a quinta lição nos é apresentada pela natureza comunitária destacada em Efésios 5.18-21, como em inúmeros outros trechos. As ordens registradas do apóstolo Paulo estão sempre no plural ("enchei-vos"..."falando entre vós"..."sujeitando-vos") apontando para a realidade de que a experiência de santificação e perseverança cristã pressupõe um envolvimento com outras pessoas que professam a mesma fé e comungam na verdade relativa ao evangelho.
Todos esses cinco pontos retirados de Ef 5.19-21 nos mostram as causas instrumentais do enchimento do Espírito, ainda que de modo não exaustivo. Os cristãos, membros regenerados do corpo de Cristo, que se posicionarem favoravelmente ao Espírito em sua obra de enchimento, empregarão necessariamente esses pontos como estopins para que sejam repletos, em seus corações e mentes, do evangelho de Cristo.
(IV) As Consequências da Plenitude
É incrível como um assunto tão claro como esse pode ser tão facilmente disseminado de forma torpe. Em Gl 5.22, 23, a Escritura nos mostra as coisas que podem ser observadas como consequências da plenitude do Espírito:
"Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio.".
Uma pessoa cheia do Espírito, repleta da Escritura e sitiada em seu coração pelo evangelho apresentará essas características (amor, alegria...). Ela não cairá inconsciente ou hipnotizada. Ela não vomitará nem imitará animais em atitudes bizarras e carnais. Ela não soltará "profetadas" e nem entrará em "transe espiritual". Ao contrário, ela se parecerá cada vez mais com Cristo (Ef 4.13).
Assim, temos um vislumbre do verdadeiro ensino bíblico sobre o Espírito e sua obra nos salvos, mais particularmente nos que foram previamente regenerados e que, em sua caminhada de santificação em Cristo, são constrangidos pelo gracioso Espírito de Deus a terem seus corações, mentes e vontades plenamente guiados pelo Senhor. Tornemo-nos cúmplices do Espírito em sua obra de enchimento e, dessa maneira, tornemo-nos mais parecidos com o Senhor Jesus.
Neste momento, um texto em particular será empregado para esclarecer o ensino bíblico sobre o assunto e, dessa forma, dissipar as tolices dos últimos dois séculos enxertadas na doutrina do Espírito.
(I) A Plenitude do Espírito
Antes de falarmos qualquer coisa sobre a plenitude do Espírito é necessário entendermos o significado dessa expressão. A plenitude do Espírito é um dos nomes que a Escritura atribui à obra de Deus pela qual um salvo tem o seu coração enchido pelo Espírito Santo, produzindo todos os efeitos que derivam dessa operação. O texto de Ef 5.18 menciona essa operação nos seguintes termos:
"E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei- vos do Espírito".
(II) O Agente da Plenitude
O Espírito Santo é uma Pessoa, e não um conceito ou uma energia. Por isso, um cristão não pode se encher do Espírito; ele precisa ser enchido. O agente que opera a plenitude no salvo é o próprio Espírito Santo, a terceira pessoa da Trindade. Mais uma vez o texto de Ef 5.18, seguido de uma importante observação exegética, mostra isso:
"E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei- vos do Espírito".
Diante do imperativo "enchei-vos" descrito no texto, é essencial ressaltamos que, nos textos originais, esse verbo encontra-se na voz passiva, de modo que notamos a agência divina nessa operação, bem como as pessoas RECEBENDO essa ação, e não a PRODUZINDO.
A conclusão de tal raciocínio é que, ao contrário do que se ouve costumeiramente, o Espírito não pode ser manipulado por ninguém e nem tampouco é o homem, por suas obras de piedade, que determina ao Espírito o quanto este deverá enchê-lo. Tal como a salvação é uma obra monergista do começo ao fim de sua aplicação, a obra do Espírito pela qual ele nos enche de si mesmo não poderia se iniciar por nosso esforço (Fp 2.13).
(III) As Causas Instrumentais da Plenitude
A Escritura mostra as causas instrumentais mediante as quais o Espírito de Deus enche os corações e mentes dos salvos. Observe o texto de Ef 5.19-21:
"... falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, sujeitando- vos uns aos outros no temor de Cristo.".
Esse trecho pode ser fracionado em cinco lições principais. A primeira delas é que a Escritura desempenha um papel fundamental na operação da plenitude. O saltério resume, de certa forma, o conteúdo do Antigo Testamento de modo que o "falar entre vós com Salmos" equivale a utilizar a Escritura como conteúdo de reflexão contínua e instrumento absoluto pelo qual se pode aquiescer à verdade. O texto paralelo de Cl 3.16, entre um montante infindável de passagens da Bíblia, confirma a relevância primordial da Escritura como ferramenta do Espírito na santificação e preservação dos filhos de Deus na fé.
A segunda lição aponta para as expressões de louvor e gratidão que devemos elevar a Deus, seja em música, seja em oração, seja em atitudes. Neste caso em particular, faz-se referência à música como conduinte dessas expressões, mas isso deve ser encarado muito menos como uma orientação restrita do que na qualidade de uma afirmação metonímica: a música expressa o louvor e a adoração ao Deus criador, mas as orações e atitudes também fazem isso, com a diferença de que podem ser feitas incessantemente, ao contrário da música, cuja produção sujeita-se à conveniência de local ou horário.
A terceira lição se refere ao aprofundamento da consciência no evangelho em virtude da qual nos tornamos capazes de agradecer POR TUDO a Deus. Só é possível agradecermos sinceramente a Deus pelos momentos de angústia e provação que Ele nos proporciona quando estamos plenamente cônscios de sua soberania e cuidado sobre nossas vidas. Mais do que isso, quando estamos convictos de que somos seus filhos e que nada pode nos separar de seu amor.
A quarta lição diz respeito à sujeição mútua, que se baseia no maior exemplo de sujeição concebível: a sujeição de Cristo em sua humilhação. Na economia da redenção, o Deus-Filho se fez carne e sujeitou-se ao Pai e à missão salvadora a qual se propôs efetuar (Fp 2.5-8). Tal sujeição não é de maneira alguma ontológica, mas puramente econômica. E por tal esvaziamento visto em Jesus somos constrangidos a nos "esvaziar" de nosso próprio ego e vontade a fim servirmos ao próximo.
Finalmente, a quinta lição nos é apresentada pela natureza comunitária destacada em Efésios 5.18-21, como em inúmeros outros trechos. As ordens registradas do apóstolo Paulo estão sempre no plural ("enchei-vos"..."falando entre vós"..."sujeitando-vos") apontando para a realidade de que a experiência de santificação e perseverança cristã pressupõe um envolvimento com outras pessoas que professam a mesma fé e comungam na verdade relativa ao evangelho.
Todos esses cinco pontos retirados de Ef 5.19-21 nos mostram as causas instrumentais do enchimento do Espírito, ainda que de modo não exaustivo. Os cristãos, membros regenerados do corpo de Cristo, que se posicionarem favoravelmente ao Espírito em sua obra de enchimento, empregarão necessariamente esses pontos como estopins para que sejam repletos, em seus corações e mentes, do evangelho de Cristo.
(IV) As Consequências da Plenitude
É incrível como um assunto tão claro como esse pode ser tão facilmente disseminado de forma torpe. Em Gl 5.22, 23, a Escritura nos mostra as coisas que podem ser observadas como consequências da plenitude do Espírito:
"Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio.".
Uma pessoa cheia do Espírito, repleta da Escritura e sitiada em seu coração pelo evangelho apresentará essas características (amor, alegria...). Ela não cairá inconsciente ou hipnotizada. Ela não vomitará nem imitará animais em atitudes bizarras e carnais. Ela não soltará "profetadas" e nem entrará em "transe espiritual". Ao contrário, ela se parecerá cada vez mais com Cristo (Ef 4.13).
Assim, temos um vislumbre do verdadeiro ensino bíblico sobre o Espírito e sua obra nos salvos, mais particularmente nos que foram previamente regenerados e que, em sua caminhada de santificação em Cristo, são constrangidos pelo gracioso Espírito de Deus a terem seus corações, mentes e vontades plenamente guiados pelo Senhor. Tornemo-nos cúmplices do Espírito em sua obra de enchimento e, dessa maneira, tornemo-nos mais parecidos com o Senhor Jesus.
Soli Deo Gloria!
Paulo Ribeiro é teólogo, professor e apologeta do cristianismo (Face: /paulordsn)
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