sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

O Mito do Livre Arbítrio

Por: Water Chantry

A maioria das pessoas diz que crê no “livre-arbítrio”. Você tem alguma idéia do que isso significa? Acredito que você achará grande quantidade de superstição sobre este assunto. A vontade é louvada como o grande poder da alma humana, que é completamente livre para dirigir nossa vida. Mas, do que ela é livre? E qual é o seu poder?

O mito da liberdade circunstancial

Ninguém nega que o homem tem vontade – ou seja, a capacidade de escolher o que ele quer dizer, fazer e pensar. Mas, você já refletiu sobre a profunda fraqueza de sua vontade? Embora você tenha a habilidade de fazer uma decisão, você não tem o poder de realizar seu propósito. A vontade pode planejar um curso de ação, mas não tem nenhum poder de executar sua intenção.

Os irmãos de José o odiavam. Venderam-no para ser um escravo. Mas Deus usou as ações deles para torná-lo governador sobre eles. Escolheram seu curso de ação para fazer mal a José. Mas, em seu poder, Deus dirigiu os acontecimentos para o bem de José. Ele disse: “Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem” (Gn 50.20).

E quantas de nossas decisões são terrivelmente frustradas? Você pode escolher ser um milionário, mas a providência de Deus talvez o impedirá. Você pode decidir ser um erudito, mas a saúde ruim, um lar instável ou a falta de condições financeiras podem frustrar sua vontade. Você escolhe sair de férias, mas, em vez disso, um acidente de automóvel pode enviar-lhe para o hospital.

Por dizer que sua vontade é livre, certamente não estão queremos dizer que isso determina o curso de sua vida. Você não escolheu a doença, a tristeza, a guerra e a pobreza que o têm privado de felicidade. Você não escolheu ter inimigos. Se a vontade do homem é tão poderosa, por que não escolhemos viver sem cessar? Mas você tem de morrer. Os principais fatores que moldam a sua vida não se devem à sua vontade. Você não seleciona sua posição social, sua cor, sua inteligência, etc.

Qualquer reflexão séria sobra a sua própria experiência produzirá esta conclusão: “O coração do homem traça o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos” (Pv 16.9). Em vez de exaltar a vontade humana, devemos humildemente louvar o Senhor, cujos propósitos moldam a nossa vida. Como Jeremias confessou: “Eu sei, ó Senhor, que não cabe ao homem determinar o seu caminho, nem ao que caminha o dirigir os seus passos” (Jr 10.23).

Sim, você pode escolher o que quer e pode planejar o que fará, mas a sua vontade não é livre para realizar qualquer coisa contrária aos propósitos de Deus. Você também não tem o poder de alcançar seus objetivos, mas somente aqueles que Deus lhe permite alcançar. Na próxima vez que você tiver tão enamorado de sua própria vontade, lembre a parábola de Jesus sobre o homem rico. O homem rico disse: “Farei isto: destruirei os meus celeiros, reconstruí-los-ei maiores e aí recolherei todo o meu produto e todos os meus bens... Mas Deus lhe disse: Louco, esta noite te pedirão a tua alma” (Lc 12.18-21). Ele era livre para planejar, mas não para realizar. O mesmo acontece com você.

O mito da liberdade ética

A liberdade da vontade é citada como um fator importante em tomar decisões morais. Diz-se que a vontade do homem é livre para escolher entre o bem e o mal. Novamente temos de perguntar: do que ela é livre? E o que a vontade do homem é livre para escolher?

A vontade do homem é o seu poder de escolher entre alternativas. Sua vontade decide realmente suas ações dentre várias opções. Você tem a capacidade de dirigir seus próprios pensamentos, palavras e atos. Suas decisões não são formadas por uma força exterior, e sim dentro de você mesmo. Nenhum homem é compelido a agir em contrário a sua vontade, nem forçado a dizer o que ele não quer dizer. Sua vontade guia suas ações.

Isso não significa que o poder de decidir é livre de todas as influências. Você faz escolhas baseado em seu entendimento, seus sentimentos, nas coisas de que gosta e de que não gosta e em seus apetites. Em outras palavras, a sua vontade não é livre de você mesmo! As suas escolhas são determinadas por seu caráter básico. A vontade não é independente de sua natureza, e sim escrava dela. Suas escolhas não moldam seu caráter, mas seu caráter guia suas escolhas. A vontade é bastante parcial ao que você sabe, sente, ama e deseja. Você sempre escolhe com base em sua disposição, de acordo com a condição de seu coração.

É por essa razão que a sua vontade não é livre para fazer o bem. Sua vontade é serva de seu coração, e seu coração é mau. “Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração” (Gn 6.5). “Não há quem faça o bem, não há nem um sequer” (Rm 3.12). Nenhum poder força o homem a pecar em contrário à sua vontade; os descendentes de Adão são tão maus que sempre escolhem o mal.

Suas decisões são moldadas pelo seu entendimento, e a Bíblia diz sobre todos os homens: “Antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato” (Rm 1.21). O homem só pode ser justo quando deseja ter comunhão com Deus, mas “não há quem busque a Deus” (Rm 3.11). Seus desejos anelam pelo pecado, e, por isso, você não pode escolher a Deus. Escolher o bem é contrário à natureza humana. Se você escolher obedecer a Deus, isso será resultado de compulsão externa. Mas você é livre para escolher, e sua escolha está escravizada à sua própria natureza má.

Se carne fresca e salada fossem colocadas diante de um leão faminto, ele escolheria a carne. Isso aconteceria porque a natureza do leão dita a escolha. O mesmo se aplica ao homem. A vontade do homem é livre de força exterior, mas não é livre das inclinações da natureza humana. E essas inclinações são contra Deus. O poder de decisão do homem é livre para escolher o que o coração humano dita; portanto, não há possibilidade de um homem escolher agradar a Deus sem a obra anterior da graça divina.

O que muitas pessoas querem expressar quando usam o termo livre-arbítrio é a idéia de que o home é, por natureza, neutro e, por isso, capaz de escolher o bem ou o mal. Isso não é verdade. A vontade humana e toda a natureza humana é inclinada continuamente para o mal. Jeremias perguntou: “Pode, acaso, o etíope mudar a sua pele ou o leopardo, as suas manchas? Então, poderíeis fazer o bem, estando acostumados a fazer o mal” (Jr 13.23). É impossível. É contrário à natureza. Portanto, os homens necessitam desesperadamente da transformação sobrenatural de sua natureza, pois sua vontade está escravizada a escolher o mal.

Apesar do grande louvor que é dado ao “livre-arbítrio”, temos visto que a vontade do homem não é livre para escolher um curso contrário aos propósitos de Deus, nem é livre para agir em contrário à sua própria natureza moral. A sua vontade não determina os acontecimentos de sua vida, nem as circunstâncias dela. Escolhas éticas não são formadas por uma mente neutra, são sempre ditadas pelo que constitui a sua personalidade.

O mito da liberdade espiritual

No entanto, muitos afirmam que a vontade humana faz a decisão crucial de vida espiritual ou de morte espiritual. Dizem que a vontade é totalmente livre para escolher a vida eterna oferecida em Jesus ou rejeitá-la. Dizem que Deus dará um novo coração a todos que, pelo poder de seu próprio livre-arbítrio, escolherem receber a Jesus Cristo.

Não pode haver dúvida de que receber a Jesus Cristo é um ato da vontade humana. É freqüentemente chamado de “fé”. Mas, como os homens chegam a receber espontaneamente o Senhor? A resposta habitual é: “Pelo poder de seu próprio livre-arbítrio?” Como pode ser isso? Jesus é um Profeta – e receber a Jesus significa crer em tudo que ele diz. Em João 8.41-45, Jesus deixou claro que você é filho de Satanás. Esse pai maligno odeia a verdade e transmitiu, por natureza, essa mesma propensão ao seu coração. Por essa razão, Jesus disse: “Porque eu digo a verdade, não me credes”. Como a vontade humana escolherá crer no que a mente humana odeia e nega?

Além disso, receber a Jesus significa aceitá-lo como Sacerdote – ou seja, utilizar-se dele e depender dele para obter paz com Deus, por meio de seu sacrifício e intercessão. Paulo nos diz que a mente com a qual nascemos é hostil a Deus (Rm 8.7). Como a vontade escapará da influência da natureza humana que foi nascida com uma inimizade violente para com Deus? Seria insensato a vontade escolher a paz quando todo as outras partes do homem clamam por rebelião.

Receber a Jesus também significa recebê-lo como Rei. Significa escolher obedecer seus mandamentos, confessar seu direito de governar e adorá-lo em seu trono. Mas a mente, as emoções e os desejos humanos clamam: “Não queremos que este reine sobre nós” (Lc 19.14). Se todo o meu ser odeia a verdade de Jesus, odeia seu governo e odeia a paz com Deus, como a minha vontade pode ser responsável por receber a Jesus? Como pode um pecador que possui tal natureza ter fé?

Não é a vontade do homem, e sim a graça de Deus, que tem ser louvada por dar a um pecador um novo coração. A menos que Deus mude o coração, crie um novo espírito de paz, veracidade e submissão, a vontade do homem não escolherá receber a Jesus Cristo e a vida eterna nele. Um novo coração tem de ser dado antes que um homem possa escolher, pois a vontade humana está desesperadamente escravizada à natureza má do homem até no que diz respeito à conversão. Jesus disse: “Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo” (Jo 3.7). A menos que você nasça de novo, jamais verá o reino de Deus.

Leia João 1.12-13. Essa passagem diz que aqueles que crêem em Jesus foram nascidos não “da vontade do homem, mas de Deus”. Assim como a sua vontade não é responsável por sua vinda a este mundo, assim também ela não é responsável pelo novo nascimento. É o seu Criador que tem de ser agradecido por sua vida. E, “se alguém está em Cristo, é nova criatura” (2 Co 5.17). Quem escolheu ser criado? Quando Lázaro ressuscitou dos mortos, ele pôde, então, escolher obedecer o chamado de Cristo, mas ele não pôde escolher vir à vida. Por isso, Paulo disse em Efésios 2.5: “Estando nós mortos em nossos delitos, [Deus] nos deu vida juntamente com Cristo, — pela graça sois salvos” (Ef 2.5). A fé é o primeiro ato de uma vontade que foi tornada nova pelo Espírito Santo. Receber a Cristo é um ato do homem, assim como respirar, mas, primeiramente, Deus tem de dar a vida.

Não é surpreendente que Martinho Lutero tenha escrito um livro intitulado A Escravidão da Vontade, que ele considerava um de seus mais importantes tratados. A vontade está presa nas cadeias de uma natureza humana má. Você que exalta, com grande força, o livre-arbítrio está se agarrando a uma raiz de orgulho. O homem, caído no pecado, é totalmente incapaz e desamparado. A vontade do homem não oferece qualquer esperança. Foi a vontade, ao escolher o fruto proibido, que nos colocou em miséria. Somente a poderosa graça de Deus oferece livramento. Entregue-se à misericórdia de Deus para a sua salvação. Peça ao Espírito de Graça que crie um espírito novo em você.

- Walter Chantry, nascido em 1938, foi pastor da Grace Baptist Church em Carlisle, PA, EUA por 39 anos, até o ano de 2002. Chantry recebeu seu Mdiv pelo seminário teológico Westminster, PA, foi editor da revista “The Banner of Truth” e é escritor e preletor em conferências teológicas.

Traduzido por: Wellington Ferreira

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Quebra de maldições Hereditárias?



retirado do site Bereianos - Apologética Cristã Reformada

Reconheço que existe uma maldição na vida de alguns crentes que devemos quebrar. E esta maldição é a “quebra de maldições hereditárias” propriamente dita. Algo que está impregnado em muitas igrejas pelo Brasil e pelo mundo afora.

Para abordar esse tema, gostaria de colocar um pouco de minha vida para justificar que eu vivi esta realidade no passado. Portanto, conheço bem os parâmetros colocados pelos defensores desta prática.

Eu me converti em uma igreja onde é praticada a quebra de maldições hereditárias, fui ensinado com base nesta doutrina e durante alguns anos também preguei a mesma para muitas pessoas, até mesmo ministrei cultos de quebra de maldições hereditárias.

Mas eu sempre questionei sobre a autenticidade desta doutrina, pois apesar de ter aprendido em minha igreja (na época) sobre a necessidade de se quebrar maldições hereditárias e também ministrar sobre isto, sempre quando me deparei com algumas passagens bíblicas eu ficava com muita dúvida. A bíblia diz em II Co 13:8 que “nada podemos contra a verdade se não pela verdade”. Portanto, não podemos ir contra a Bíblia jamais. Ela é a nossa única regra de fé e conduta. E a Bíblia estava me confrontando...

Um exemplo de passagem está em Romanos 14:12, onde diz: “Assim, pois, cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus”. Como poderia alguém fazer quebra de maldições de antepassados se cada um de nós prestará contas de si mesmo á Deus?

Outra passagem que sempre me deixava preocupado é Romanos 8:1, diz: “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.” Como posso ter alguma condenação de maldição se estou em Cristo?

Mais uma passagem, 2 Co 5:17: “E assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura: as cousas antigas já passaram; eis que se fizeram novas”. Se estamos em Cristo e tudo se fez novo, as coisas antigas já passaram, como poderei ter maldições sobre a minha vida?

E o que dizer desta passagem: "E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos; tendo cancelado o escrito de dívida que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando na Cruz." Cl 2:13-14

Diante destas e outras passagens que veremos a seguir, acabou por me deixar com muitas dúvidas, nas quais me levou a buscar um aprofundamento teológico sobre este assunto. O conteúdo do estudo e a conclusão que eu cheguei você verá a seguir.


O EVANGELHO DA MALDIÇÃO

Uma das distorções doutrinárias mais difundidas entre o povo de Deus ultimamente é o ensino das “maldições hereditárias”, conhecido também como “maldição de família ou “pecado de geração”. Estes conceitos circulam bastante através da televisão, rádio, literatura e seminários nas igrejas. Muitos líderes, ministérios e igrejas, antes sólidos e confiáveis, acabaram sucumbindo a mais esse ensino controvertido e importado dos Estados Unidos.

Os pregadores da maldição afirmam que se alguém tem algum problema relacionado com alcoolismo, pornografia, de­pressão, adultério, nervosismo, divórcio, diabete, câncer e muitos outros, é porque algum antepassado viveu aquela situação ou praticou aquele pecado e transmitiu tal pecado ou maldição a um descendente. A pessoa deve então orar a Deus a fim de que lhe seja revelado qual é a geração no passado que o está afetando. Uma vez que se saiba qual, pede-se perdão por aquele antepassado ou pela geração revelada e o problema estará resolvido, isto é, estará desfeita a maldição.

Marilyn Hickey, autora norte-americana e que já esteve várias vezes no Brasil em conferências da Adhonep (Associação de Homens de Negócios do Evangelho Pleno), promove constantemente este ensino. Note suas palavras:

Se você ou algum de seus ancestrais deu lugar ao diabo, sua família poderá estar sob a “Maldição Hereditária”, e esta se transmitirá a seus filhos. Não permita que sua descendência seja atingi­da pelo diabo através das maldições de geração. Os pecados dos pais podem passar de uma a outra geração, e assim consecutiva­mente. Há na sua família casos de câncer, pobreza, alcoolismo, alergia, doenças do coração, perturbações mentais e emocionais, abusos sexuais, obesidade, adultério’? Estas são algumas das características que fazem parte da maldição hereditária nas famílias. Contudo, elas podem ser quebradas!

Um dos textos bíblicos mais usados pelos pregadores da maldição hereditária para defender este ensino é Êxodo 20:4-6: “Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o SENHOR teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que me aborrecem, e faço misericórdia até mil gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos”.

É preciso que se leve em consideração o assunto do texto aqui citado. De que trata, afinal, tal passagem? Alcoolismo, pornografia, depressão, ou problemas do gênero? É óbvio que não. O texto fala de idolatria e não oferece qualquer base para alguém afirmar que herdamos maldições espirituais de nossos antepassados em qualquer área das dificuldades humanas.

A narrativa do Antigo Testamento nos informa que sempre que a nação de Israel esteve num relacionamento de amor com Deus, ela não podia ser amaldiçoada. Vemos a prova disso em Números 23:7, 8, quando Balaque pediu a Balaão que amaldiçoasse a Israel. A resposta de Balaão aparece no versículo 23: “Pois contra Jacó não vale encantamento, nem adivinhação contra Israel”. Por outro lado, sempre que a nação quebrou a aliança de amor com Deus, ela ficou exposta a maldição, calamidades e cativeiro.

É verdade que os filhos que repetem os pecados de seus pais têm toda a possibilidade de colher o que seus pais colheram. Os pais que vivem no alcoolismo têm grande possibilidade de ter filhos alcoólatras. Os que vivem blasfemando, ou na imoralidade e vícios, estão estabelecendo um padrão de comportamento que, com grande probabilidade, será seguido por seus filhos, pois “aquilo que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6:7). Isso poderá suceder até que uma geração se arrependa, volte-se para Deus e entre num relacionamento de amor com ele através de Jesus Cristo. Cessou aí toda a maldição. Não deve ser esquecido também que o autor da maldição ou punição é Deus e que ela é a manifestação da sua ira. Note que, no final do versículo cinco do capítulo vinte de Êxodo, a Palavra de Deus declara que a maldição viria apenas sobre aqueles que aborrecem a Deus, algo que não se passa com o cristão.

A Bíblia ensina uma responsabilidade individual pelo pecado, como pode ser observado no livro do profeta Ezequiel:

“Veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo: Que tendes vós, vós que, acerca da terra de Israel, proferis este provérbio, dizendo: Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que se embotaram? Tão certo como eu vivo, diz o SENHOR Deus, jamais direis este provérbio em Israel. Eis que todas as almas são minhas; como a alma do pai, também a alma do filho é minha; a alma que pecar, essa morrerá” (Ez 18:1-4). Seria o mesmo que afirmar nos dias atuais: os pais comeram chocolate e os dentes dos filhos criaram carie.

O capítulo 18 de Ezequiel dá a entender que havia se tornado um costume em Israel colocar a culpa dos fracassos pessoais nos antepassados ou em outros. Isso faz lembrar o que aconteceu no jardim do Éden, quando, por ocasião da Queda, o homem colocou a culpa na mulher e a mulher na serpente. Parece ser próprio do ser humano não admitir seus erros, buscando evasivas para não tratá-los de forma responsável à luz da Palavra de Deus. Infelizmente, alguns acham mais fácil culpar os antepassados do que enfrentar suas tentações.

O ensino da maldição de família mais escraviza do que liberta. Até crentes que há vários anos viviam alegres, evangelizando, servindo ao Senhor e dando frutos, agora estão preocupados, deprimidos, pensando que talvez as tentações, as dificuldades e lutas pelas quais estão passando sejam de fato reflexo de pecados ou do comportamento dos seus ancestrais. Não faz muito tempo, numa grande igreja pentecostal, um diácono, que havia participado de um desses seminários para quebra de maldições hereditárias, me procurou para aconselhamento. Tal irmão encontrava-se confuso e deprimido com as informações que recebera e queria saber o que a Bíblia tinha a dizer sobre tudo isso. Depois de uns dez minutos de conversa, ele respirou aliviado. Temos encontrado e ajudado a muitos outros em situações semelhantes pelos lugares por onde passamos, em diferentes partes do Brasil.

Ora, todo cristão é tentado, de uma forma ou de outra, uns mais, outros menos. Se um cristão enfrenta problemas em relação à pornografia, ao alcoolismo, ao adultério, à depressão ou a qualquer outro aspecto ligado às tentações, os métodos para vencer tais lutas devem ser bíblicos. O caminho para a vitória tem muito mais a ver com a doutrina da santificação, com o cultivo da vida espiritual através da oração, do jejum, da comunhão saudável numa determinada parte do Corpo de Cristo e do contato constante com a Palavra de Deus. O ensino da quebra de maldições hereditárias aparece como um atalho mágico e ilusório para substituir a doutrina da santificação, que é um processo indispensável a ser desenvolvido pelo Espírito Santo na vida do cristão, exigindo dele autodisciplina e perseverança na fé.


DOENÇA OU MALDIÇÃO?

Um outro aspecto incorreto desse ensino é confundir as doenças transmitidas por herança genética com maldições hereditárias espirituais. Isto pode ser observado nas declarações de Marilyn Híckey:

Será que você já observou uma família na qual todos os membros usam óculos? Desde o pai e a mãe até a criança menor, todos estão usando óculos, e geralmente os do tipo de lentes grossas. Essas pobres criaturas estão debaixo de uma maldição, e precisam ser libertas.

Não se pode construir uma doutrina em cima de uma observação, experiência ou somente porque uma família toda usa óculos! Existem muitas famílias em que apenas um ou outro membro usa óculos. O que aconteceu? Por que só alguns herdam a maldição e outros não? E se as doenças são maldições transmitidas de pais para filhos através dos genes (geneticamente), por que os pregadores dessa doutrina não quebram, por exemplo, a maldição da calvície, transmitida geneticamente? Até hoje não há notícia de que alguém tenha feito isso.

O Senhor Jesus nunca ensinou tal doutrina. Quando perguntado sobre o cego de nascença: “Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?”, ele respondeu: “Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus” (Jo 9:2-3). Alguns usam este texto para afirmar que os discípulos acreditavam na maldição de família, procurando dar assim legitimidade a tal ensino. É preciso lembrar que os discípulos nem sempre estiveram certos no período de treinamento que passaram juntos a Jesus. Certa vez, em alto-mar, quando Cristo se aproximava, eles pensaram ser ele um fantasma (Mt 14:26). Felizmente, os discípulos estavam errados em suas conclusões, pois eram humanos, sujeitos a erros. É óbvio que não erraram quando falaram e escreveram inspirados pelo Espírito Santo. Quanto ao cego de nascença, Jesus destruiu qualquer superstição ou crença que os discípulos pudessem ter de que a cegueira fora provocada pelos pecados de seus antepassados, e o próprio Jesus nunca ensinou tal doutrina.

Tal ensino não encontrou espaço também nos escritos do apóstolo Paulo. Ao contrário, quando escreveu aos coríntios pela segunda vez, declarou com muita certeza: “E assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura: as cousas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2 Co 5:17). Aos efésios, ele afirma: “Bendito o Deus e pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo” (Ef 1:3). Onde existe espaço para maldições na vida de um cristão diante de uma declaração como esta?

Paulo não se deixou prender ao passado. Quando escreveu aos crentes de Filipos, declarou: “Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma cousa faço: esquecendo-me das cousas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fp.3:13, 14).

É importante observar a sugestão do apóstolo Paulo a Timóteo, quando lhe escreveu a primeira carta: “Não continues a beber somente água; usa um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas freqüentes enfermidades” (1 Tm 5:23). Paulo nunca insinuou que a enfermidade de Timóteo fosse uma maldição de seus antepassados, pois sabia que Timóteo vivia numa natureza afetada pela desobediência dos primeiros país (Adão e Eva). Apesar de o Reino de Deus estar entre nós, ele ainda não chegou à sua plenitude, pois até a criação geme, aguardando ser redimida do cativeiro da corrupção (Rm 8: 19-23). Paulo apenas sugeriu que Timóteo tomasse um pouco de vinho como um remédio para suas freqüentes enfermidades estomacais e não que fizesse a quebra das maldições hereditárias.


A CONVERSÃO É A SOLUÇÃO

Ensinar que um cristão tem que romper com maldições ou pactos dos antepassados pedindo perdão por eles é minimizar o poder de Deus na conversão. Isso está mais para o espiritismo ou mormonismo (com sua doutrina anti-bíblica do batismo pelos mortos) do que para o cristianismo. A Bíblia declara com muita ousadia: “Por isso também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles” (Hb 7:25). O advérbio “totalmente” (panteles, no grego) tem o sentido de pleno, completo e para sempre. Jesus não salva em prestações, mas de uma vez por todas.

Marilyn Híckey chega a afirmar que: “Você pode decidir quanto ao destino exato da sua linhagem. Eles ou vão para Jesus, ou vão para o diabo”. Nada poderia estar mais longe da verdade. Quantos filhos há que hoje vivem uma vida cristã exemplar, são cheios do Espírito Santo, enquanto seus pais permanecem alheios ao Evangelho, rejeitando constantemente a palavra de salvação e até tentando dificultar-lhes a vida espiritual! Comigo também foi assim. Ai de mim se fosse esperar meu pai decidir sobre o meu futuro espiritual. Não sei onde estaria hoje.

É claro que os pais têm grande influência na formação espiritual dos filhos, mas o milagre da salvação é obra de Deus, e é pela graça que somos salvos (Ef 2:8, 9). É o Espírito Santo, o Consolador, quem convence o coração do pecado, da justiça e do juízo, como o próprio Senhor Jesus disse (Jo 16:7, 8). Paulo relatou aos gálatas que foi Deus quem lhe revelou seu Filho (Gl 1:15, 16). Assim, a salvação é uma revelação de Jesus Cristo em nossos corações, e não algo decidido somente pelos pais.

Observe o que aconteceu com os filhos de Samuel, um profeta de Deus e um homem íntegro, como pode ser observado em 1 Samuel 3:19 e 12:3. Apesar da integridade do pai, a Bíblia diz que seus filhos não andaram pelos caminhos dele:

“antes se inclinaram à avareza, e aceitaram subornos e perverteram o direito” (1 Sm 8:3).

Veja os reis de Israel e Judá. A narrativa do Antigo Testamento revela que muitos deles foram ímpios e tiveram filhos piedosos, enquanto outros foram piedosos e tiveram filhos ímpios. Eis alguns exemplos: Abias foi mau (1 Rs 15:3), mas seu filho Asa “fez o que era reto perante o SENHOR” (1 Rs 15:11). Jotão “fez o que era reto perante o SENHOR” (2 Rs.15:34), porém Acaz, seu filho, “não fez o que era reto perante o SENHOR” (2 Rs 16:2). Jeosafá agradou a Deus (2 Cr 17:1-4), enquanto Jeorão, seu filho, “fez o que era mau perante o SENHOR” (2 Cr 2 1:6). Assim, a seqüência de bondade ou maldade que deveria suceder na linhagem dos reis de Israel e Judá, de acordo com o que ensinam os pregadores da maldição de família simplesmente não aconteceu. A esses exemplos certamente não se poderia aplicar o provérbio: “Tal pai... tal filho”.

Inspirado pelo Espírito Santo, Paulo escreveu aos irmãos de Corinto, na sua primeira carta, uma palavra tremendamente elucidativa quanto a esta questão: “Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus. Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados, em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus” (1 Co 6:9-11; leia também Gl.5:17-21).

Pode-se notar que Paulo não afirmou no versículo onze:

“Mas haveis quebrado as maldições hereditárias, mas haveis pedido perdão pelos pecados dos antepassados” ou algo similar. Não, de modo algum, este não é o seu pensamento. Paulo afirma que aqueles que estiveram presos nos pecados haviam sido lavados, haviam sido santificados e justificados, sem qualquer necessidade de quebrar maldições dos antepassados.

Cabem aqui algumas perguntas: Qual é a maior das maldições? Sem dúvida é estar fora de Cristo. Qual a maior das bênçãos? Certamente é o estar em Cristo. Como se elimina a maior das maldições? Introduzindo a maior das bênçãos.

Os pregadores da maldição hereditária não deveriam pedir perdão pelos pecados da décima, nona, oitava ou de qualquer outra geração, mas deveriam, sim, pedir perdão pelos pecados de Adão e Eva, pois se houve brecha, foi ali, na queda do jardim do Éden, onde as maldições tiveram início. Ali está a raiz do problema. Isso, sim, seria um trabalho perfeito e completo. O leitor já imaginou se funcionasse? De repente, ninguém mais precisaria trabalhar para ganhar o pão, a mulher não sofreria mais ao dar à luz e os espinhos desapareceriam da Terra. É claro que não funciona, pois tal ensino não tem base na Palavra de Deus.


TEXTOS MAL INTERPRETADOS

Espíritos Familiares

Para defender o ensino da maldição hereditária, seus pregadores usam a expressão “espíritos familiares”, tradução de Levítico 19:31 e de outras passagens na Bíblia em inglês do Rei Tiago (King James Version). Observe o comentário de Marilyn Hickey quanto a isso:

O que são “espíritos familiares”? São maus espíritos decaídos que se tornaram familiares numa família. Eles a seguem, com suas fraquezas — pecado físico, mental, emocional — por todo caminho, atacando e tentando cada membro seu naqueles aspectos, pois estão cientes de suas inclinações. “Marilyn, como é que você sabe disso?” Porque o Antigo Testamento fala acerca dos “espíritos familiares” (Versão King James).

Usando o mesmo argumento, um certo autor comenta:

Nas traduções em português, usamos as palavras necromantes, adivinhadores e feiticeiros. Mas em inglês usa-se o termo espíritos “familiares” e é esta a base bíblica que temos para demonstrar que estes espíritos de adivinhação, necromancia e feitiçaria passam de geração em geração. Há um acompanhamento, por parte destes demônios, sobre as famílias. E eles transmitem os mesmos vícios, comportamentos e atitudes de que temos falado.

Defender um ensino controvertido com base na tradução de uma Bíblia em inglês (Versão do Rei Tiago) é algo inaceitável à luz da hermenêutica e da exegese bíblica. É preciso ter em mente que a Bíblia Sagrada não foi escrita em inglês. Para se entender o texto bíblico, é necessário que se faça a tradução e interpretação com base na língua em que ele foi escrito. No caso do Antigo Testamento, o hebraico, e não o inglês. Ao afirmar: “Mas em inglês se usa o termo espíritos familiares, e é esta a base bíblica que temos para demonstrar que estes espíritos de adivinhação, necromancia e feitiçaria passam de geração em geração”, o autor demonstra exatamente o contrário: não ter base bíblica para tal ensino.

Robert L.Alden, Ph.D., professor do Velho Testamento no Seminário Teológico Batista Conservador de Denver, Estado do Cobrado, nos Estados Unidos, esclarece:

A palavra ‘ob (original hebraico) aparentemente se refere àqueles que consultavam os espíritos, pois 1 Samuel 28 descreve alguém assim em ação. A famosa “feiticeira” de Endor é uma ‘ob. Ao povo de Deus foi ordenado ficar longe de tais ocultistas (Levítico 19:31). A punição por se envolver com tais “médiuns” era morte por apedrejamento (Levítico 20:27). Naturalmente ‘ob é incluída na lista de abominações semelhantes em Deuteronômio 18:10,11. Todas essas ocupações têm a ver com o ocultismo. Isaías desconsidera estes “necromantes” e sugere, pela sua escolha de palavras, que os sons dos espíritos assim emitidos não são nada mais do que ventriloquismo: “os necromantes e os adivinhos que chilreiam e murmuram” (Isaías 8:19).

É importante observar ainda que a Septuaginta (a versão grega do Antigo Testamento) emprega o termo eggastrímithoi (ventríloquo) para traduzir a palavra ‘ob de Levítico 19:31. A Bíblia informa em 1 Samuel 28:3 que Saul havia banido de Israel os adivinhos e os encantadores e não os espíritos familiares. Assim, a palavra hebraica ‘ob significa o “vaso” ou instrumento dos espíritos, portanto o médium ou necromante, conforme aparece na maioria das traduções da Bíblia, não oferecendo tal vocábulo base para quebra de maldições hereditárias na vida do cristão.

A crença de que a violência é provocada por espíritos familiares também não tem base bíblica. O apóstolo Paulo foi um homem violento. A Bíblia diz que “Saulo, porém, assolava a igreja, entrando pelas casas, e, arrastando homens e mulheres, encerrava-os no cárcere” (At 8:3). O apóstolo João, antes de se tornar o discípulo do amor, não hesitava em dar vazão à sua ira. Certa vez ele chegou a desejar que caísse fogo do céu para consumir os samaritanos que se recusaram a receber Jesus (Lc 9:52-54). Como abandonou Paulo sua violência e João deixou de ter um espírito ou temperamento vingativo? Sem dúvida, através da conversão e do viver com Cristo foi que eles foram transformados e libertos, e não através da quebra de maldição de família, algo que nunca fez parte de seus escritos.


ARVORE GENEALÓGICA

Embora haja quem sugira às pessoas para que desenhem árvores genealógicas a fim de facilitar a quebra das maldições, tal prática não encontra apoio na Bíblia. É verdade que encontramos genealogias nos Evangelhos de Mateus e de Lucas, as quais tinham a intenção de apresentar a linhagem de Jesus como o Messias de Israel. Não há, depois disso, em todo o Novo Testamento, preocupação com tal ensino. Ao contrário, o apóstolo Paulo até recomendou a Timóteo e a Tito que não se envolvessem com esse assunto (1 Tm 1:4 e Tt 3:9). Os mórmons, sim, na tentativa de resolver os problemas espirituais de seus falecidos através do batismo pelos mortos (uma prática antibíblíca), gastam muito tempo e dinheiro com genealogias, contrariando assim as Escrituras Sagradas.

Há os que dizem que devemos pedir perdão pelos pecados de P. C. Farias e de políticos acusados como corruptos. Outros estão sugerindo que, ao se encontrar uma pessoa negra na rua, deve-se chegar a ela e pedir perdão pelos pecados dos que promoveram a escravidão no Brasil. Há até aqueles que afirmam que os carros roubados no Brasil e levados ao Paraguai são uma maneira de Deus fazer os brasileiros pagarem aos paraguaios pelo mal que lhes fizeram em guerras passadas. Que absurdo!

Os que isto sugerem gostam de citar as orações de Esdras (capítulo nove), Neemias (capítulo nove) e Daniel (capítulo nove), em que eles fizeram confissão a Deus, citando os pecados de seus antepassados. Sabemos que as bênçãos do antigo pacto eram condicionadas à obediência do povo de Israel. Quando desobedecia, as maldições de Deus vinham sobre ele. Esdras, Neemias e Daniel de fato reconheceram o pecado de seus antepassados, mas pediram perdão pelos pecados do presente, da geração atual. Embora seja possível alguém sofrer as conseqüências dos pecados de terceiros, o mesmo não acontece com a culpa. A Palavra de Deus não culpa ninguém pelos pecados dos outros. A Bíblia em nenhum lugar ensina a interceder por quem já morreu, uma vez que após a morte segue-se o juízo, não oração ou pedido de perdão pelos mortos (Hb 9:27).

É preciso lembrar ainda que, à luz da Bíblia, ninguém pode se arrepender por outra pessoa. O arrependimento é algo pessoal, que se faz diante de Deus. A idéia de que “temos que até interceder, pedir perdão por pecados que aqueles antepassados cometeram, e quebrar os pactos que fizeram”, contradiz a Palavra de Deus, que afirma: “Assim, pois, cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus” (Rm 14:12).


PROVÉRBIOS 26:2

Eis aqui outro texto freqüentemente mal usado pelos pregadores da maldição de família. Allen P Ross comenta que era comum acreditar que as bênçãos e as maldições tinham existência objetiva — uma vez proferidas, produziam efeito. Ele acrescenta: “As Escrituras esclarecem que o poder de amaldiçoar e de abençoar depende do poder daquele que está por trás dele (por exemplo, Balaão não pôde amaldiçoar o que Deus havia abençoado; Nm 22:38 e 23:8). Este provérbio realça a correção da superstição. A Palavra do Senhor é poderosa porque é a Palavra do Senhor — ele a cumprirá”. Nota-se então que não existe base para se usar tal texto a fim de defender a transferência de maldições de geração em geração.


MALDIÇÃO DE NOMES PRÓPRIOS

É o que ensina o livro Bênção e Maldição quando afirma:

A verdade é que há nomes próprios que estão carregados de maldição —já trazem prognóstico negativo (...) Por isso não convém dar aos nossos filhos nomes que tenham conotação negativa, que expressem derrota, tristeza, dureza: Maria das Dores, Mara (amargura), Dolores (dor e pesar), Adriana (deusa das trevas), Cláudio (coxo, aleijado), Piedade, Aparecida (sem origem, que não se sabe de onde veio).

Este é mais um ensino que vem acrescentar cargas desnecessárias sobre os crentes que passam a acreditar nele. Existem muitas pessoas hoje vivendo preocupadas devido ao nome que receberam ao nascer, algo sobre o que não tiveram controle e nem escolha. E, de novo, não há base bíblica para isso.

É verdade que há na Bíblia alguns nomes de pessoas que corresponderam às suas personalidades e às circunstâncias em que viveram. O próprio Deus mudou o nome de Abrão para Abraão, que significa “pai de uma grande multidão”. (“A mudança de Abrão para Abraão teve por fim reforçar a raiz da segunda sílaba para dar maior ênfase à idéia de exaltação”, J. D. Davis, Dicionário da Bíblia, p. 11.) O nome de Jacó foi ligado à “usurpador”, e ele assim se comportou por um bom período de sua vida (ver estudo "falácia da maldição nos nomes") , O legislador de Israel recebeu o nome de Moisés por que foi salvo das águas. Contudo, não se pode criar uma regra baseada em tais exemplos pelas razões que veremos em seguida.

A Bíblia está cheia de exemplos de pessoas ímpias com nomes de bons significados, enquanto outras são boas, mas com nomes de significados nada recomendáveis. Veja o caso de Abias, que quer dizer “Jeová é pai”, filho de Samuel, um homem de Deus. Apesar de ter um bom nome e um bom pai, a Bíblia diz que ele não andou nos caminhos de Samuel e se corrompeu (1 Sm 8:3).

Já Absalão quer dizer “pai da paz”. Embora tendo um nome tão pacífico, ele tentou usurpar o trono de seu pai Davi, teve uma vida turbulenta e morreu de forma trágica (2 Sm.3:3; 13-19).

Daniel e seus amigos tiveram os nomes mudados pelo rei de Babilônia (Dn 1:7). Mesmo depois de receberem nomes ligados a deuses pagãos, isso não impediu que desfrutassem da bênção de Deus e permanecessem firmes na fé em Jeová. Logo, pode-se notar que o nome não influiu em nada.

Judas quer dizer “louvor”, um significado muito piedoso, mas isso não impediu que ele traísse o Senhor (Mt 26:48,49). Por outro lado, um outro Judas foi fiel e deixou uma carta escrita no Novo Testamento.

Bar-Jesus é um nome fantástico, que quer dizer “filho de Jesus”. Apesar do nome, ele era um mágico, um falso profeta, e resistiu a Paulo quando este pregava ao procônsul Sérgio Paulo (At 13). Apenas o nome não faz o homem. Se fizesse, as prisões no Brasil não estariam cheias de presidiários chamados de Abel, Moisés, Isaías, Daniel, Pedro, Lucas, Paulo e outros nomes bíblicos.

Há também homens e mulheres na Bíblia que serviram a Deus fielmente e foram vencedores na fé cristã, apesar dos nomes que tiveram com significados nada recomendáveis.

Apolo foi um homem de Deus, poderoso nas Escrituras (At 18:24-28), mas seu nome significa “destruidor”.

Hermes é um dos irmãos a quem Paulo envia saudações cristãs (Rm 16:14), porém seu nome é de um deus mitológico.

O interessante é que Paulo nunca instruiu esses irmãos para que fizessem oração de renúncia pelos nomes que possuíam, pois eles terão um novo nome no céu (Ap 2:17).

Alguns crentes até dão testemunho em público depois de pensar que foram bem-sucedidos ao amaldiçoar uma pessoa, uma empresa ou organização. Contam, por exemplo, que por não terem sido bem servidos num restaurante, o amaldiçoaram e o restaurante faliu. A Bíblia, porém, ensina que o cristão não deve amaldiçoar, mas, sim, abençoar. Ouçamos o conselho de Paulo: “Abençoai, e não amaldiçoeis” (Rm 12:14).

Alguns têm dito que a quebra das maldições hereditárias é bíblica, já que deu certo ou funcionou para um ou outro. O fato de ter dado certo não quer dizer que seja bíblica. Há muita coisa que funciona no espiritismo, na umbanda e na Ciência Cristã que ne m por isso é bíblica. Geralmente, as distorções no seio da Igreja são muitas vezes baseadas apenas nas experiências, no subjetivo. Ora, não importa quão maravilhosa tenha sido a experiência; se ela contradiz as Escrituras e não tem base na Palavra de Deus, deve ser rejeitada, prevalecendo somente a Bíblia Sagrada, única regra de fé e prática para o cristão.

Para maiores informações, veja o estudo: A falácia da maldição nos nomes



PODE UM CRISTÃO TER DEMÔNIOS?

Um dos temas mais polêmicos que a batalha espiritual tem gerado é se um cristão pode ter demônios. Muitos ministérios de libertação incluíram algum ritual para expulsar demônios de crentes em seus programas e isso tem acontecido em simpósios de batalha espiritual em muitas igrejas. Alguns teólogos também passaram, nos últimos anos, a aderir a tal posição e muitos deles reconhecem que o assunto é controvertido. De qualquer forma, a Bíblia Sagrada tem a palavra final sobre esta questão ou sobre qualquer outro assunto relacionado com a vida espiritual e o cristão. 

Merrill F. Unger, um autor lido e seguido por várias pessoas que hoje desenvolvem ministérios de libertação espiritual no Brasil, reconhece a dificuldade de se tratar do assunto, ao declarar: A verdade da questão é que as Escrituras em nenhum lugar declaram que um verdadeiro crente não pode ser invadido por Satanás ou seus demônios. Naturalmente, a doutrina deve sempre ter precedência sobre a experiência. Nem pode a experiência jamais oferecer base para a interpretação bíblica. Apesar disso, se experiências consistentes chocam com uma interpretação, a única conclusão possível é de que há alguma coisa errada, ou com a própria experiência ou com a interpretação da Escritura que vai contra ela. Certamente a Palavra inspirada de Deus nunca contradiz a experiência válida. Aquele que procura a verdade com sinceridade deve estar preparado para consertar sua interpretação a fim de traze-la em conformidade com os fatos como eles são.

Unger já ensinou e escreveu, no passado, que somente os incrédulos estão sujeitos a endemoninhamento ou possessão demoníaca. Mais tarde ele mudou de idéia, e diz por que:

Em Biblical Demonology (Demonologia Bíblica), publicado primeiramente em 1952, a posição tomada era de que somente os incrédulos são expostos ao endemoninhamento. Mas, através dos anos, várias cartas e relatórios de casos de invasão demoníaca de crentes têm chegado a mim de missionários em várias partes do mundo. Como resultado, em meu estudo sobre a explosão atual do ocultismo intitulado Demons in the World Today (Demônios no Mundo de Hoje), que apareceu em 1971, a confissão é feita livre­mente de que a posição tomada no Biblical Demonology (Demonologia Bíblica) “foi assim entendida, pois a Escritura não resolve claramente a questão”.

Há alguns problemas com as declarações de Unger. Primeiro, ele diz que a Bíblia não afirma com clareza que um cristão não pode ser invadido por demônios. Ora, se a Bíblia não diz isso com clareza (o que não é verdade), como pode alguém então afirmar e ensinar sobre aquilo que não está claro na Palavra de Deus? Seria o mesmo que tentar ensinar escrever sobre o sexo dos anjos quando a Bíblia nada fala a questão. Se a Bíblia não é clara sobre a possessão de crentes, como pode alguém desenvolver então, biblicamente, uma prática de expulsar demônios de crentes? Simplesmente impossível.

Pode-se perceber também que Unger, que no passado ensinava que crentes não podiam ficar possessos, depois mudou de posição. A mudança veio não pela avaliação bíblica, mas, como ele mesmo conta, através de cartas e relatórios de missionários baseados em experiências dos campos de missões. Mas Unger não está só ao basear a possessão de crentes em experiências e não na Bíblia. Veja a opinião de Bill Subbritzky sobre o assunto: “Pode um cristão ter demônios? A resposta é enfaticamente sim! Se você tem sido informado de que isso não acontece, continue lendo e deixe o Espírito Santo guiá-lo nesta questão. Estou ciente do muito que se tem ensinado a respeito de os cristãos não poderem ter demônios. Contudo, através de minha experiência no ministério há quatorze anos, constatei que tal opinião é totalmente incorreta”.

Uma autora no Brasil demonstra ter também opinião semelhante ao declarar:

Muitos defendem que, uma vez que o crente é habitação do Espírito (1 Coríntios 6:19), torna-se impossível um demônio habitar onde o Espírito habita (...) o fato de o nosso corpo ter-se tornado o templo do Espírito Santo não quer dizer que jamais poderá ser ocupado por maus espíritos. Não deveria, mas é possível (...) Todos quantos se envolvem no ministério de libertação testemunham a manifestação de demônios em cristãos.

Certa líder na área da batalha espiritual segue a mesma linha desses autores e conclui:

Se partirmos do pressuposto de que os crentes não podem ter demônios ou não podem ficar endemoninhados, corremos o risco de deixar muitos crentes opressos dentro da igreja, vivendo uma vida de grande prisão, mornidão, com uma dificuldade tremenda para crescer. Afinal, o inimigo deseja uma vida cristã medíocre. E aqui é preciso esclarecer a questão da terminologia usada. De acordo com dezenas de estudiosos do grego, daimonozomenai significa “ter demônios” e é melhor traduzido pela palavra “endemoninhado”, nunca possesso, pois no Novo Testamento não vemos o uso do termo (...) Endemoninhado tem um significado lato, indicando o estado da pessoa que tenha um demônio ou até muitos demônios perturbando ou oprimindo sua vida. Quanto ao local onde ele fica, não é o mais importante. Ele pode ficar no corpo, fora do corpo, na alma da pessoa.”(Neuza Etioka).

Dois outros autores norte-americanos, John e Paula Sanford, acrescentam também:

Há aqueles que crêem que o cristão cheio do Espírito Santo não pode ser ocupado pelo poder demoníaco. Temos descoberto que isto não é um fato histórico, ainda que a teologia diga que o Espírito Santo e os demônios não podem habitar a mesma área. E o que tem acontecido. Temos expulsado demônios de centenas de crentes cheios do Espírito Santo, alguns deles não apenas cheios do Espírito Santo, mas poderosos servos do Senhor! Como isso acontece eu não posso explicar, mas tem sido para nós um fato incontestável de muitos anos de experiência exaustiva.’

Este é o segundo problema de Unger e é também o problema dos demais autores aqui mencionados: experiência, experiência, experiência. Na última citação, os autores até informam que nem sabem explicar como pode acontecer a expulsão de demônios de crentes, mas continuam levando tal prática adiante.


CRENTES NÃO FICAM POSSESSOS

Não creio na possessão demoníaca em crentes, pelas seguintes razões bíblicas:

1o - razão: o crente é santuário do Espírito Santo. “Acaso não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo.” (1 Co 6:19, 20.)

O Espírito Santo não é um visitante esporádico na vida do crente. É morador definitivo, e não se ausenta de sua morada.

Paulo garante que não há possibilidade de convivência entre Cristo (Rm 8:9) e o maligno (Ef 2:2.) “Que harmonia entre Cristo e o maligno?” (2 Co 6:15.)

2o - razão: o Espírito Santo é zeloso pelo seu santuário. “Ou supondes que em vão afirma a Escritura: Ë com ciúme que por nós anseia o Espírito, que ele fez habitar em nós?” (Tg 4:5.).

O Espírito Santo é a pessoa da trindade santa para a qual Jesus mais reivindicou o nosso cuidado na análise de fatos ou no evitar de palavras precipitadas. “Por isso vos declaro: Todo pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito Santo não será perdoada. Se alguém proferir alguma palavra contra o Filho do homem, ser-lhe-á isso perdoado; mas se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será isso perdoado, nem neste mundo nem no porvir.” (Mt 12:31, 32.)

Atribuir as obras de Jesus ao poder de Belzebu, o maioral dos demônios, já era pecado e blasfêmia contra o Espírito Santo, que estava sobre Jesus (Lc 4:18, 19), pois o Espírito Santo não pode ser veículo usado por Satanás. Diante de tal santidade e zelo será possível admitirmos que o Espírito Santo permitiria a entrada de força maligna em seu santuário? Louvado seja o seu nome porque ele não permite.

3o - razão: o crente é propriedade de Deus. É maravilhosa a declaração, de Paulo em Efésios 1:13, 14: “Em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; o qual é o penhor da nossa herança até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória.” No verso 14, os crentes são chamados de “propriedade de Deus”. O sublime de tudo isto é que o Espírito Santo é o “penhor” da nossa ressurreição futura, ou seja, a garantia de que não estamos órfãos (Jo 14:18) e de que seremos transformados na ressurreição (1 Co 15:52.). A presença do Espírito Santo em nós é a garantia de que somos propriedade de Deus.

“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.” (1 Pe 2:9.) 

A propriedade é exclusiva. Essa “propriedade” não será loteada e vendida ao diabo.

4o - razão: Jesus é o valente que tomou posse da propriedade.

“Quando o valente, bem armado, guarda a sua própria casa, ficam em segurança todos os seus bens. Sobrevindo, porém, um mais valente do que ele vence-o, tira-lhe a armadura em que confiava e lhe divide os despojos. (Lc 11:21, 22.)”.

O Senhor Jesus veio ao mundo “para destruir as obras do diabo.” (1 Jo 3:8.)

Jesus me fascinou pela sua valentia e coragem diante da cruz. Essa valentia é a mesma no que diz respeito a guardar os seus filhos das investidas do diabo na tentativa de possuí-los.

Jesus é o Senhor absoluto de sua casa (1 Pe 2:5) e de seu tabernáculo (2 Co 5:1), que são os nossos corpos.

5o - razão: O Espírito Santo intercede pelos crentes em suas fraquezas.

“Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira com gemidos inexprimíveis.” (Rm 8:26.)

É porque o Espírito Santo perscruta até mesmo as profundezas de Deus que Ele pode interceder por nós de acordo com a vontade perfeita do profundo e humanamente insondável coração de Deus. “Porque, qual dos homens sabe as cousas do homem, senão o seu próprio espírito que nele está? Assim também as cousas de Deus ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus.” (1 Co 2:11.)

Davi invocava o Espírito Santo para ajudá-lo a viver na perfeita vontade de Deus. “Ensina-me a fazer a tua vontade, pois tu és o meu Deus; guie-me o teu bom Espírito por terreno plano”.(Sl. 143:10.)!

O cristão não é um super-homem, mas é superprotegido graças à intercessão do Espírito Santo nas horas de maior fraqueza e necessidade.

6ª - razão: O imutável amor de Cristo garante a segurança.

“Em todas estas cousas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Porque eu estou bem certo de que nem morte, nem vida, nem anjos, nem principados, nem cousas do presente, nem do porvir, nem poderes, nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.” (Rm 8:37-39.)

O que nos dá segurança é o fato de o amor ser o de Cristo Jesus. Seu amor é sublime e leal, “é forte como a morte” (Ct 8:6) e a sua fidelidade está para além da fidelidade do crente, porque “se somos infiéis, ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo”. (2 Tm 2:13.)

“Bem-aventurado o homem que confia no amor de Cristo por sua vida”. A promessa para ele é: “O Senhor é quem te guarda; o Senhor é a tua sombra à tua direita. De dia não te molestará o sol, nem de noite a lua, O Senhor te guardará de todo o mal; guardará a tua alma. O Senhor guardará a tua saída e a tua entrada, desde agora e para sempre.” (Sl 121:5-7.)

O crente jamais será esquecido pelo amado Senhor Jesus, pois o seu nome está nas palmas de Sua mão. “Acaso pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta viesse a se esquecer dele, eu, todavia, não me esquecerei de ti. Eis que nas palmas das minhas mãos te gravei; os teus muros estão continuamente perante mim.”(Is 49:15, 16.)

O crente pode reivindicar todas as promessas da Palavra de Deus, “Porque quantas são as promessas de Deus tantas têm nele o sim; porquanto também por ele é o amém para a glória de Deus, por nosso intermédio” (2 Co 1:20.)

Um filho de Deus jamais ficará possesso por espíritos malignos. Esta é a confiança.

Fonte: [ CACP

Esta é a minha conclusão e afirmação teológica: Não existe maldições hereditárias, muito menos um crente pode ficar possesso! A afirmativa contrária a esta conclusão é herética, maligna e carece de respaldo bíblico. Portanto, fujam de pessoas que pregam estas heresias destrutivas e aprisionadoras. Se você, de fato estiver em Cristo, o maligno não pode lhe tocar (1 Jo 5.18)!

Soli Deo Gloria!

sábado, 11 de janeiro de 2014

Dízimo - obrigatório ou não ?


Retirado do site : Bereianos - Apologética Cristã Reformada



Há muito tempo venho estudando a fundo sobre este tema. Realmente é um dos assuntos mais polêmicos (se não o mais polêmico) que existe em discussão no meio Cristão no geral; "o dízimo". 
É impressionante como muitas pessoas (principalmente líderes) ignoram uma discussão com uma análise mais profunda Biblicamente sobre o dízimo. É como se fosse um vulcão adormecido que causa temor e terror em todos que residem ao redor e, se mexer no vulcão, o mesmo entrará em erupção novamente. Faço esta analogia porque o assunto “dízimo” já foi discutido exaustivamente por muitas vezes no meio Cristão, desde os primeiros séculos depois de Cristo. E todos nós sabemos que tocar neste assunto irá mexer exatamente no provimento financeiro em que muitas igrejas são sustentadas nos dias de hoje. Alguns líderes chegam até mesmo a comentar : “Se abolirmos o dízimo e ficar somente nas ofertas, como a Igreja irá se sustentar?” Entre outros receios. 
Infelizmente, hoje, nos nossos dias, a discussão sobre a autenticidade deste assunto é realmente quase que “abolida” do meio eclesiástico Brasileiro. Pois a verdade é que, por achar que o dízimo da maneira que é colocado seja uma “doutrina inquestionável” e que a igreja não sobrevive só de ofertas, muitos tem medo de "acordar este vulcão", outros não tem sequer coragem para fazer uma análise Bíblica mais profunda, hermenêutica e exegeticamente honesta e correta. 
É quase que unânime a resposta de quem tem esta doutrina fundamentada em sua vida: Temos que devolver o Dízimo, pois pertence ao Senhor. Se não devolver 10% do que ganhamos, estaremos roubando à Deus e o demônio devorador atacará nossas finanças”.
O pior é quando alguns chegam ao "extremo" sobre o assunto quando afirmam que a salvação está ligada diretamente na entrega do dízimo. Ou seja, se alguém não for dizimista fiel, estará colocando a sua salvação em perigo.
Mas, será que realmente temos que “devolver” o dízimo para não roubarmos à Deus? Será que devemos devolver algo que nos foi dado DE GRAÇA ???Será que realmente existe o demônio devorador que ataca nossas finanças caso não “devolvamos” o dízimo? Será que Malaquias pode ser contextualizado em partes e aplicado a nós para fundamentar o dízimo? Será que realmente o Novo Testamento fundamenta a obrigatoriedade do dízimo para os dias de hoje? Será que a nossa salvação depende da entrega do dízimo?
A minha intenção neste artigo é convidar você, leitor, a agir com toda avidez, zelo e imparcialidade. 
Convido você a fazer uma análise Bíblica mais profunda sobre este tema. Para isto eu coloco algumas das melhores análises exegéticas feitas por autores especialistas no assunto. Espero que este artigo possa levar você, leitor, a um estudo Bíblico mais profundo sobre o dízimo e que, ao final deste artigo, você possa estar com o conhecimento necessário para esclarecer e fundamentar seus conhecimentos sobre este tema.
Bom estudo!
O Dízimo
Autor: Túlio Cesar Costa Leite
A menos que vocês provem para mim pela Escritura e pela razão que eu estou enganado, eu não posso e não me retratarei. Minha consciência é cativa à Palavra de Deus. Ir contra a minha consciência não é nem correto nem seguro. Aqui permaneço eu. Não há nada mais que eu possa fazer. Que Deus me ajude. Amém.
Martinho Lutero

Introdução
O movimento Reformado representou um retorno às Escrituras Sagradas. Como conseqüência, o acúmulo de tradições acrescentadas à fé apostólica foi varrido da igreja. Somos filhos da Reforma e temos a obrigação de julgar nossas próprias práticas à luz da Bíblia, comparando Escritura com Escritura.
A máxima “igreja reformada sempre se reformando” deve ser sempre lembrada e praticada. Deveríamos hesitar em abolir ensinos que não se respaldam na Revelação? 
Não há erro quando alguém obriga a si próprio a não comer carne, ou guardar determinados dias, ou se abster de algo, ou colocar sobre si qualquer outra obrigação sobre a qual não há mandamento bíblico (Rm 14.2-6). Porém, o erro passa a existir quando pretendemos impor a outra pessoa exigências que a Bíblia não impôs. Pretendo demonstrar a seguir que o dízimo, conforme tradicionalmente ensinado e praticado nas igrejas evangélicas, enquadra-se nesta definição.


Um histórico da prática do dízimo
A igreja pós-apostólica viveu a tensão entre a prática do dízimo e a afirmação paulina de que Cristo nos libertou da lei (Gl 5.1). Nos séculos 5 e 6, encontramos a prática do dízimo bem estabelecida nas áreas antigas da cristandade do ocidente. 
No século 8 os soberanos carolíngeos tornaram o dízimo eclesiástico parte da lei secular. Já no século 12, os monges que antes tinham sido proibidos de receber dízimos, sendo obrigados a pagá-los, obtiveram certa medida de liberdade ao obterem permissão para receber dízimos e, ao mesmo tempo, tendo isenção do pagamento deles. 
Controvérsias sobre dízimos sempre surgiram quando pessoas procuravam evitar o pagamento, ao passo que outras tentavam apropriar para si as rendas dos dízimos. Os dízimos medievais eram divididos em prediais, cobrados sobre os frutos da terra; pessoais, cobrados dos salários da mão-de-obra; e mistos, cobrados da produção dos animais. 
Esses dízimos eram subdivididos, ainda, em grandes, derivados de trigo, feno e lenha, pagáveis ao reitor ou sacerdote responsável pela paróquia; e pequenos, dentre todos os demais dízimos prediais, mais os dízimos mistos e pessoais, pagáveis ao vigário. Na Inglaterra, especialmente por volta dos séculos 16 e 17, a questão dos dízimos foi uma fonte de conflito intenso, visto que a Igreja Estatal dependia dos dízimos para sua sobrevivência.
Implicações sociais, políticas e econômicas eram consideráveis nas tentativas do arcebispo Laud de aumentar o pagamento dos dízimos, antes de 1640. Os puritanos ingleses e outros queriam a abolição dos dízimos, substituindo-os por contribuições voluntárias para sustentar os clérigos. Mas a questão dos dízimos despertou paixões ferozes e amarguras, notáveis dentre todas as questões associadas com a guerra civil inglesa. Depois da guerra, o dízimo obrigatório sobreviveu na Inglaterra até o século 20.

O texto clássico
Roubará o homem a Deus? Todavia, vós me roubais e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, vós, a nação toda. Trazei todos os dízimos à casa do Tesouro, para que haja mantimento na minha casa; e provai-me nisto, diz o SENHOR dos exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu e não derramar sobre vós bênção sem medida. Ml 3.8-10
Este é o texto clássico usado para ensinar aos membros da igreja a prática do dízimo, isto é, a entrega à igreja de 10% do salário bruto mensal. É concordância generalizada entre os evangélicos que o dízimo não é dado, mas sim “devolvido” a Deus. Não poucos testemunhos confirmam que dar o dízimo acarreta bênção e o contrário traz maldição:
“Temos um colega que recebeu uma carta de uma senhora que foi membro de sua Igreja e ele chorou amargamente ao ler aquela carta, porque aquela senhora dizia o seguinte: Pastor, eu lhe agradeço por tudo quanto o senhor me fez durante o tempo em que fui membro da sua Igreja. Mas eu fui obrigada a me mudar dessa localidade e fui freqüentar outra Igreja. O senhor nunca me falou a respeito do dízimo. O outro pastor me ensinou a ser dizimista, e Deus me abriu as janelas dos céus e me tem dado tantas e tão grandes bênçãos que eu lamento ter perdido doze anos na sua Igreja recebendo maldição, quando Deus tinha uma bênção sem medida para mim, se eu fosse fiel. Um pastor que recebe uma carta assim só pode chorar.
Testemunhos dessa natureza prendem a atenção dos ouvintes e são usados para confirmar a veracidade do ensino a respeito do dízimo. É difícil discordar de algo que produz resultados como este: 
“Certo dia, quando recolhíamos os dízimos eu li este versículo. Estava presente um engenheiro que, tendo sido muito rico, perdera tudo em poucas semanas, e quando eu li este versículo ele compreendeu que isto tinha acontecido na sua vida, e, naquela hora, prometeu a Deus que ia ser fiel na entrega dos dízimos. O que Deus fez e está fazendo na vida daquele homem é simplesmente espantoso. Um ano depois este engenheiro era presbítero da minha Igreja e podia dizer: Hoje eu sou muito mais rico do que era quando Deus assoprou minha riqueza porque Ele já me devolveu em dobro o que assoprou. Este homem tem sido uma bênção na Igreja e no seu trabalho.
Doutrina, por mais atrativa que seja, não pode ter sua autoridade respaldada pela experiência. O texto sagrado deve ser o único pilar sobre o qual se assenta o ensino.
Qualquer outro alicerce deve ser considerado supérfluo e indesejável. Sabemos também que a doutrina não pode ser baseada num único texto. É necessário que haja uma concordância com outras partes do Livro Santo. Examinemos se o dízimo, tal como é ensinado acima, confirma-se à luz das Escrituras. (Após a leitura deste artigo, leia atentamente a exegese do livro de Malaquias no “Anexo 1”).

O Novo Testamento ensina a prática do dízimo?
Uma primeira constatação é que não há, no Novo Testamento, nenhum parâmetro mínimo estipulado para a contribuição. O apóstolo Paulo organizou uma grande coleta para os necessitados da Judéia. As duas epístolas aos Coríntios trazem referência a esta coleta:
“Quanto à coleta para os santos, fazei vós também como ordenei às igrejas da Galácia. No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte, em casa, conforme a sua prosperidade, e vá juntando, para que se não façam coletas quando eu for.” 1 Co 16.1-2
Nos capítulos 8 e 9 de 2 Coríntios, Paulo desenvolve seu ensino acerca das contribuições. Estes textos se referem à alegria da contribuição, à generosidade, à liberalidade, à presteza em ofertar: 
“E isto afirmo, aquele que semeia pouco pouco também ceifará; e o que semeia com fartura com abundância também ceifará. (9.6) ... porque, no meio de muita prova de tribulação, manifestaram abundância de alegria, e a profunda pobreza deles superabundou em grande riqueza da sua generosidade. (8.2) Pedindo-nos, com muitos rogos, a graça de participarem da assistência aos santos. (8.4) ... assim, como revelastes prontidão no querer, assim a leveis a termo, segundo as vossas posses. (8.11) porque bem reconheço a vossa presteza, da qual me glorio...” ( 9.2) 
Não vemos nenhuma referência a uma contribuição mínima que é obrigatória – o dízimo – e a partir daí, ofertas voluntárias. Ao contrário, o ensino de Paulo, é que se a contribuição não for voluntária, não deve ser dada: 
“Não vos falo na forma de mandamento, mas para provar, pela diligência de outros, a sinceridade do vosso amor; (8.8) Porque, se há boa vontade, será aceita conforme o que o homem tem e não segundo o que ele não tem. (8.12) Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por necessidade; porque Deus ama a quem dá com alegria. (9.7) Ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres (...) se não tiver amor, nada disso me aproveitará.” (1 Co 13.3).

Ofertas voluntárias
são o método de contribuição do Novo Testamento:
“E sabeis também vós, ó filipenses, que, no início do evangelho, quando parti da Macedônia, nenhuma igreja se associou comigo no tocante a dar e receber, senão unicamente vós outros; porque até para Tessalônica mandastes não somente uma vez, mas duas, o bastante para as minhas necessidades. Não que eu procure o donativo, mas o que realmente me interessa é o fruto que aumente o vosso crédito. Recebi tudo e tenho abundância; estou suprido, desde que Epafrodito me passou às mãos o que me veio de vossa parte como aroma suave, como sacrifício aceitável e aprazível a Deus.” (Fp 4.15-18)
Paulo usa a figura dos sacrifícios vetero-testamentários com relação às ofertas: as ofertas dos filipenses foram, diante de Deus, “como aroma suave, como sacrifício aceitável e aprazível a Deus”. Mas aquele que está sendo instruído na palavra faça participante de todas as cousas boas aquele que o instrui (Gl 6.6). Paulo, aqui, faz referência à obrigação de dar sustento àqueles que se afadigam no ensino da Palavra. Ensino repetido em 2 Tessalonicenses 5.12:
“Agora, vos rogamos, irmãos, que acateis com apreço os que trabalham entre vós e os que vos presidem no Senhor e vos admoestam; e que os tenhais com amor em máxima consideração, por causa do trabalho que realizam.”
E mais detalhado em 1 Coríntios 9:
“Não temos nós o direito de comer e beber? (v 4) Ou somente eu e Barnabé não temos direito de deixar de trabalhar? (v 6 – Paulo refere-se ao trabalho secular). Se nós vos semeamos as cousas espirituais, será muito recolhermos de vós bens materiais? (v 11) Não sabeis vós que os que prestam serviços sagrados do próprio templo se alimentam? E que serve ao altar do altar tira o seu sustento? (v 13). 
A referência aqui é a Dt 18.1, que permite aos levitas comer partes dos sacrifícios oferecidos no Templo. De fato, existe o direito bíblico (do qual Paulo abriu mão, pelo menos com relação aos coríntios – 1 Co 9.15 – e aos tessalonicenses – 1 Ts 2.7,9; 2 Ts 3.8-9) de os pregadores pastores - mestres serem sustentados pelas suas congregações:
“Assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho que vivam do evangelho. (v 14)...” Porém não há referência a dízimos.


Algumas outras citações, entre muitas:
“... compartilhai as necessidades dos santos. (Rm 12.13)... façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé. (Gl 6.10) Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado. (Ef 4.28) Exorta aos ricos do presente século ... que ... sejam ... generosos em dar e prontos a repartir” (1 Tm 6.17,18).
Note-se o ensino consistente e positivo do Novo Testamento a respeito da generosidade, da liberalidade, da prontidão em repartir. A contrapartida negativa temos nas muitas advertências a respeito da avareza:
“O que foi semeado entre os espinhos é o que ouve a palavra, porém os cuidados do mundo e a fascinação das riquezas sufocam a palavra, e fica infrutífera” (Mt 13.22). Tende cuidado e guardai-vos de toda e qualquer avareza; porque a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui. (Lc 12.15) Sabei, pois, isto: nenhum ... avarento, que é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus. (Ef 5.5) Porque nada temos trazido para o mundo, nem cousa alguma podemos levar dele. Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores. 1 Tm 6.7-10 Seja a vossa vida sem avareza.” (Hb 13.5) 
Esta é a doutrina. Isso é o que devemos ensinar. O que passar disso pode ser considerado ensino bíblico?

Jesus ensinou a prática do dízimo?
Argumenta-se que Jesus ensinou que devemos dar o dízimo em Mateus 23.23:
“Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dízimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fé; devíeis, porém, fazer estas cousas, sem omitir aquelas!”
Note-se: obedecer os preceitos mais importantes da lei, sem omitir o dízimo da hortelã, do endro e do cominho, é o que Jesus afirma. 
De fato, esta afirmação de Jesus nos remete à discussão sobre a Lei e a Graça, o Velho e o Novo Testamento, a Antiga e a Nova Aliança.
Não ignoramos a profecia de Jeremias: 
Eis aí vêm dias, diz o SENHOR, em que firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá... (31.31). Esta profecia foi lembrada pelo autor de Hebreus que ensina a respeito de Jesus como Mediador de superior aliança instituída com base em superiores promessas (8.6), e completa: Quando ele diz Nova, torna antiquada a primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado e envelhecido está prestes a desaparecer (8.13). Paulo afirma o mesmo com outras palavras: De maneira que a lei nos serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé. Mas, tendo vindo a fé, já não permanecemos subordinados ao aio” (Gl 3.24-25).
Sabemos que há dois testamentos, duas alianças – uma antiga, que já passou, e uma nova, que vigora. 
Mas, quando começou a vigorar a nova aliança, o novo testamento?
 
Hebreus responde:
Porque, onde há testamento, é necessário que intervenha a morte do testador; pois um testamento só é confirmado no caso de mortos; visto que de maneira nenhuma tem força de lei enquanto vive o testador. (Hb 9.16-17) Oh! que significado tem as palavras de Jesus na última ceia: porque isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados.” (Mt 26.28).
Vemos, assim, que os evangelhos retratam acontecimentos da antiga aliança. Poderíamos dizer que o Antigo Testamento se estende até Mateus 27.50 quando “Jesus, clamando outra vez com grande voz, entregou o espírito.”

Dessa forma, podemos entender muitas passagens do NT:
Em Lc 1.15 o anjo Gabriel consagra João Batista ao nazireado, conforme Nm 6.3.
Em Lucas 2.21 Jesus é circuncidado obedecendo o disposto em Levítico 12.3;
Em Lucas 2.22 Maria se purifica conforme estabelecido em Levítico 12.4;
Em Lucas 2.23 os pais de Jesus oferecem o sacrifício prescrito em Levítico 12.6-8;
Em Mateus 8.4 Jesus manda um leproso fazer o sacrifício prescrito em Levítico 14;
Em Lucas 19.8 Zaqueu se submete duplamente à pena estabelecida em Êxodo 22.9;
Em Mateus 17.24 Jesus paga o imposto estipulado em Êxodo 30.11-16
Em Mateus 26.17 Jesus e os discípulos cumprem o requerido em Êxodo 12.1-27.
Entendemos, então, que enquanto Jesus vivia, a Lei Mosaica estava em vigor. Como entender Mt 8.4, onde Jesus ordena a apresentação de um sacrifício de animal ao que havia sido curado de lepra? É necessário que façamos isto hoje? Evidentemente que não. Da mesma forma, quando, em Mt 23.23, Jesus ordena aos fariseus que dêem o dízimo do cominho, da hortelã e do endro, devemos entender que eles estavam debaixo da mesma aliança mosaica que obrigou o leproso a cumprir o ritual de Levítico 14. Há, portanto, nos relatos dos evangelhos, um aspecto de transição entre o que é e o que há de vir. Por isso é preciso cuidado para não impor sobre o Novo Israel prescrições relativas ao Antigo Israel. Pois não estais debaixo da lei e sim da graça (Rm 6.14).

O dízimo está acima da Lei?
Existe uma passagem em Gênesis 14.20 – E de tudo lhe deu Abrão o dízimo – que é usada para defender a prática do dízimo como supra-legal, ou seja, acima da lei. Eis o argumento: Abrão deu o dízimo a Melquisedeque, rei de Salém, antes da Lei ser estabelecida. Logo o dízimo é antes da Lei. Portanto o dízimo perdura após o fim da Lei.
Tomemos outra passagem para testar a validade da argumentação acima – Gn 17.10:
“Esta é a minha aliança, que guardareis entre mim e vós e a tua descendência: todo macho entre vós será circuncidado.” Em Gn 17.23-27 vemos Abraão circuncidando-se a si, a Ismael, e a todos os homens de sua casa. Argumentemos: Abrão circuncidou-se antes da Lei ser estabelecida. Logo a circuncisão é antes da Lei. Portanto a circuncisão perdura após o fim da Lei. 
Temos, assim, verificado que se este argumento é procedente para validar o dízimo, é da mesma forma procedente para justificar a prática da circuncisão.
Uma preciosa norma de interpretação afirma que um texto descritivo pode ilustrar uma doutrina, porém não pode ser base de doutrina.
Porém é freqüente cair neste erro. Toda a doutrina pentecostal do batismo com o Espírito Santo esta assentada sobre o livro de Atos – descritivo por excelência. Usando textos descritivos grupos sectaristas ensinam, por exemplo:
·         o lava-pés (Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros – Jo 13.14);
·         que a Ceia deve ser celebrada com pão asmo (cf. Mt 26.17-19; Ex 12.1-27 – porém esquecem que Jesus usou também vinho e não o suco de uva que a maioria das igrejas usa atualmente);
·         que o batismo só é válido quando feito em rio – “rios de águas correntes” é a expressão usada (Mt 3.6). 
Kenneth Hagin, o fundador da “teologia” da prosperidade erige um verdadeiro arranha-céu doutrinário sobre uma única afirmação de Jesus: “Por isso, vos digo que tudo quanto em oração pedirdes, crede que recebestes, e será assim convosco” (Mc 11.24).
Portanto, se é correto que não se pode basear doutrina sobre texto descritivo, tanto Mt 23.23 quanto Gn 14.20 ficam invalidados para se justificar a prática atual do dízimo.
(Para maiores detalhes, leia o “Anexo 2” logo no final deste artigo que aborda sobre Abraão e Jacó darem o dízimo.)

O Dízimo e a Lei Mosaica
Trazei todos os dízimos... (Ml 3.10).
Nenhum profeta do Antigo Testamento criou doutrina nova. A síntese do que diziam pode ser resumida na seguinte sentença: Voltem para a Lei. Em outras palavras: lembrem-se do que Moisés vos prescreveu. De modo que, se queremos saber mais a respeito do dízimo devemos nos voltar para suas prescrições no Pentateuco. E é aí que encontraremos algumas surpresas:
- Em Lv 27.30-33 aprendemos que os dízimos são Santos ao SENHOR.
- Em Nm 18.21ss aprendemos que os dízimos são “herança dos Levitas”.
- Porém, em Dt 12.5ss e 14.22ss aprendemos a respeito da dinâmica da entrega dos dízimos: eles eram comidos e bebidos pelo próprio ofertante e sua família no Templo, diante do SENHOR, numa celebração alegre e festiva: A esse lugar [o Templo] fareis chegar os vossos ... dízimos... Lá comereis perante o SENHOR, vosso Deus, e vos alegrareis... (12.6,7) Se o caminho até o Templo fosse longo, o israelita poderia vender o seu dízimo e, chegando a Jerusalém, comprar tudo o que deseja a tua alma: vacas, ovelhas, vinho ou bebida forte, ou qualquer cousa que te pedir a tua alma; come-o ali perante o SENHOR, teu Deus, e te alegrarás, tu e a tua casa. (14.26).
Repetidamente há a recomendação de não desamparar o levita (12.12, 18, 19; 14.27). E, finalmente, no capítulo 14 uma ordem especial:
“Ao fim de cada três anos, tirarás todos os dízimos do fruto do terceiro ano e os recolherás na tua cidade. Então, virão o levita (pois não tem parte nem herança contigo), o estrangeiro, o órfão e a viúva que estão dentro da tua cidade, e comerão, e se fartarão, para que o SENHOR, teu Deus, te abençoe em todas as obras que as tuas mãos fizerem. (v 28-29)
Portanto vemos claramente que somente de 3 em 3 anos o dízimo era entregue integralmente aos levitas. Nos anos restantes ele era consumido alegremente “perante o SENHOR” pelo próprio ofertante, por sua família e por muitos convidados, num grande banquete. Em Ne 13.10-12, vemos a restauração da prática do dízimo no Judá pós exílio.
Ali está a referência aos “depósitos” onde eram armazenados os dízimos. A que prática, olvidada pelo povo, Malaquias estava se referindo? A tudo o que acabamos de descrever do livro de Deuteronômio. Portanto, se quisermos usar o profeta para restaurar a prática do dízimo, não podemos omitir os textos Mosaicos a que ele está se referindo, pois uma boa norma de hermenêutica diz que um texto não pode significar para nós o que não significou para os seus destinatários originais.
(Para maiores detalhes, leia o “Anexo 3” que aborda como era o dízimo no Antigo Testamento, logo no final deste artigo.)

O Dízimo e os Profetas
A esta altura uma pergunta se faz necessária: é correto que um texto do Antigo Testamento de modo geral ou um texto de alguns dos profetas seja usado como base para se ensinar a prática ou a abstenção de algum preceito? Alguns respondem que sim, desde que se trate da lei moral, a qual continuamos obrigados a cumprir e não da lei cerimonial essa sim, revogada. Mas, como fazer tal distinção? 
Exemplifiquemos com o conhecido texto do profeta Isaías (capítulo 58) sobre o jejum aceitável a Deus: 
“Seria este o jejum que escolhi, que o homem um dia aflija a sua alma, incline a sua cabeça como o junco e estenda debaixo de si pano de saco e cinza? ... Porventura, não é este o jejum que escolhi: que soltes as ligaduras da impiedade, desfaças as ataduras da servidão, deixes livres os oprimidos e despedaces todo jugo? 
É moral ou cerimonial o que escreve o profeta? E o final do discurso quando Isaías afirma:
Se desviares o pé de profanar o sábado e de cuidar dos teus próprios interesses no meu santo dia; se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do SENHOR, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, não pretendendo fazer a tua própria vontade, nemfalando palavras vãs, então, te deleitarás no SENHOR. Eu te farei cavalgar sobre os altos da terra e te sustentarei com a herança de Jacó, teu pai, porque a boca do SENHOR o disse.”
Guardar o sábado é moral ou cerimonial? Freqüentemente aquilo que parece cerimonial está inextrincavelmente ligado ao que, sem dúvida, é moral. Não comereis cousa alguma com sangue, não agourareis, nem adivinhareis. Não cortareis o cabelo em redondo, nem danificareis as extremidades da barba (Lv 19.26). Não contaminarás a tua filha, fazendo-a prostituir-se... guardareis os meus sábados... não vos voltareis para os necromantes, nem para os adivinhos. 
Lemos, também, que Deus quis matar Moisés porque este não havia circuncidado seus filhos (Ex 4.24-26) e que a pena de morte era prescrita para quem não guardasse o sábado (Ex 31.14-15). Para o judeu comer comida kosher (pura), guardar o sábado, circuncidar a si e seus filhos e usar barba era tão moral quanto não consultar necromantes ou adivinhos e não prostituir sua filha. 
Portanto, como justificar que usar Malaquias 3.10 para se requerer a prática do dízimo é legítimo e não é legítimo usar Isaías 58.13 para se exigir a guarda do sábado? 
Por que critério Malaquias 3.10 é atual e não Malaquias 4.4?
 Lembrai-vos da lei de Moisés, meu servo, a qual lhe prescrevi em Horebe para todo o Israel, a saber, estatutos e juízos.” E, se Malaquias 3.10 continua vigorando, onde o Livro Santo nos autorizou a alterar a prática do dízimo conforme prescrita pela lei de Moisés?

Calvino e a mordomia
Calvino, nos Comentários aos Cinco Livros de Moisés, nos trechos referentes às primícias, aos dízimos e às oferendas escreve que estas prescrições têm um significado espiritual. Assim, comentando a exigência do imposto do templo (Ex 30.16) ele escreve:

Deus os taxou todos a uma e a mesma soma, a fim de que, desde o maior até o menor, cada qual, qualquer que fosse o seu estado ou qualidade, reconhecesse que Lhe pertencia inteira e totalmente. E não é de maravilhar, visto que era esse (como se diz) um direito pessoal e as faculdades não se creditam a que o rico, de fato, contribuísse mais do que o pobre, mas antes, que o tributo era pago igualmente pessoa por pessoa.
Comentando o texto de Mt 17.24 ele acrescenta: Sabemos que a Lei lhes impunha pagar cada um anualmente meio estáter e que Deus, que os havia resgatado, era para eles o Rei Soberano. Ou seja, para Calvino, este imposto simboliza a redenção que Jesus efetua em favor de cada pessoa do seu povo. Da mesma forma, comentando sobre as primícias, “Calvino afirma que São Paulo mostra que se a oferta das primícias, como rito, foi abolida, guarda-nos, todavia, o significado espiritual.”[6] Sem a cerimônia, permanece ainda a verdadeira observância, quando nos exorta ele a glorificar o nome de Deus, até mesmo no beber e no comer (1 Co 10.31)

 
Comentando o voto de Jacó em Gn 28.22 (E, de tudo quanto me concederes, certamente eu te darei o dízimo), Calvino escreve: Os atos externos não caracterizam os verdadeiros servidores de Deus, são apenas subsídios de piedade.
Comentando 2 Co 8.8, o reformador escreve: Verdade é que, por toda parte, ordena Deus que acorramos a ajudar os irmãos em suas necessidades; mas, verdade é também que nenhuma passagem há em que nos defina a soma, quanto lhes devemos dar, a fim de que, feita estimativa de nossos bens, repartamo-los entre nós e os pobres; nem, de maneira semelhante, onde nos obriga a certas circunstâncias, nem de tempo, nem de pessoa, nem de lugar, mas à regrada caridade nos conduz.
 
No entanto, Calvino não deixa de enfatizar aquilo que já vimos: o ensino a respeito da generosidade e a precaução contra a avareza:
A vontade liberal é agradável a Deus tanto do pobre quanto do rico... verdade é que é bem certo que devemos a Deus não apenas uma parte, mas, afinal, tudo o que somos e tudo o que temos. Entretanto, segundo Sua benevolência, até esse ponto nos poupa, que Se contenta desta comunicação que o Apóstolo aqui ordena. O que, pois, ensina ele aqui é um relaxamento, por assim dizer, daquilo a que somos obrigados no rigor do direito. Contudo nosso dever é estimular-nos a nós mesmos a darmos com freqüência. Não há temer que sejamos exageradamente descomedidos neste aspecto, pelo contrário, há é o perigo de sermos demasiado sovinas.[10] Ainda comentando 2 Co 8.8, Calvino acrescenta: Ora, esta doutrina é necessária contra um bando de visionários que pensam que nada havemos feito, se não nos despojamos inteiramente para termos tudo em comum. Na verdade, tanto fazem por sua fantasia, que ninguém pode dar ajuda em boa consciência. Eis porque é preciso observar-se diligentemente a moderação de São Paulo, a saber, que nossa ajuda seja agradável a Deus, quando de nossa abundância acorremos à necessidade dos irmãos, não de tal maneira que tenham a ponto de regurgitarem, enquanto nós ficamos na condição de necessitados, mas antes, que do nosso distribuamos segundo o permite nossa própria capacidade, e com alegria de coração e ânimo disposto.[11]

Conclusão
Tudo aquilo que é extrabíblico é, na verdade, anti-bíblico. 
Qualquer imposição que se revele sem raízes nas Escrituras deve ser considerada falsa e perigosa, mesmo que tenha sido instituída com propósitos elevados.
O dízimo tradicionalmente praticado pelos evangélicos é bíblico?
Se não for, não pode ser legitimamente exigido de nenhum membro. Já se afirmou que se o dízimo for extinto a igreja perderá o seu sustento.
Ora, este não é um argumento bíblico. 
Respondemos que a doutrina bíblica nunca prejudicará a vida da igreja e que a verdade jamais será perniciosa; pelo contrário, se tivermos a determinação de ensinar que os membros são livres para dar ou não dar, que não há patamar mínimo exigido, que Deus ama a quem dá com alegria, que devemos ser generosos, guardar-nos da avareza, ser prontos em repartir, acumular tesouros no céu... Deus responderá derramando sobre a Sua igreja bênçãos sem medida.

Autor: Túlio Cesar Costa Leite – Presbítero da Igreja Reformada Presbiteriana em Maricá
------------------------------------------------------------------------------

Anexo 1
Exegese do antigo testamento Malaquias 3:10
Autor: Marcelo Siqueira Barreiros
Introdução:
Criar uma nova doutrina bíblica utilizando textos fora do contexto é muito fácil. Se tomarmos, por exemplo, Atos 16:30 e 31 isoladamente, poderemos ensinar que basta um dos membros de uma determinada família se converter para que todos os demais estejam salvos, afinal não é isto que Paulo está dizendo? Crê (Crê tu ... Paulo não está dizendo creiam vocês. Ou crede vós) no Senhor Jesus Cristo, e serás salvo, tu e a tua casa.
Que alívio não traria esta doce mensagem ao coração amargurado de uma mãe que há mais de 10 anos vem orando pela conversão de um filho desviado! Agora ela está feliz, pois basta que ela, somente ela, creia e aceite a Jesus como seu Salvador pessoal e automaticamente todos da sua casa estarão igualmente salvos.

Certo ou errado? Que erros grosseiros foram praticados no exemplo acima?
a) A doutrina de salvação não pode ser ensinada tendo por base um só versículo bíblico. (Nenhuma doutrina pode ser consolidada desta forma).
b) Todos os demais versos bíblicos que falam sobre o mesmo tema (salvação) devem ter coerência entre si.
c) Deve-se conhecer o contexto do texto antes de se criar um pretexto. É exatamente isto que acontece com o famoso texto de Malaquias 3:8-10:
“Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas alçadas. Com maldição sois amaldiçoados, por que me roubais, vós a nação toda. Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa e depois fazei prova de mim, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal, que dela vos advenha a maior abastança.”
Talvez seja este o texto mais distorcido da Bíblia. Embora quase que universalmente aceito, contém muitos erros de interpretação.
Vejamos:

DÍZIMO É LEI CERIMONIAL
O povo de Israel era governado por vários tipos de leis:

Lei Moral : Proibido matar, roubar, adulterar (Êxodo 20)
Lei de Saúde : Proibido comer carne com sangue (Levítico 17)
Lei Social : Proibido colher bagos caídos. Deixar para os pobres (Levítico 19: 9,10)
Lei Civil : Permitido repudiar uma esposa estrangeira (Deut 21:10-14)
Lei Cerimonial : Regulamentava toda a prática do culto e da adoração. (Levítico 16)
Depois de analisar cuidadosamente os tipos de lei acima, pare, reflita e responda, sinceramente. A que lei pertencia a instrução do dízimo? À lei de saúde? À lei social? À lei civil?

Óbvio que não! O dízimo se enquadra unicamente na lei cerimonial.
A lei que caducou na cruz.
A lei que não tem mais nenhuma validade para todos nós que vivemos sob o novo concerto, pois mandamentos cerimoniais são para os judeus do velho testamento.
Tome cada passagem bíblica sobre dízimo e observe que os contextos sempre contêm instruções cerimoniais. Agregados aos dízimos lá estão as ofertas alçadas, os bodes, os sacerdotes, os levitas, o templo, etc.

Mas, alguém poderia argumentar que o termo “roubará o homem a Deus” faz Malaquias 3:8-10 se enquadrar no oitavo mandamento da lei moral, “não furtarás“.
Entretanto, cada vez que um judeu quebrava algum mandamento cerimonial também pecava contra a lei moral. A ligação é intrínseca. Veja alguns exemplos:
a) Se um sacerdote rapasse os cantos da barba ou fizesse incisões no corpo estaria pecando contra a lei cerimonial pois eles deveriam ser santos ao Senhor e não profanar o Seu nome (Levítico 21:5). Estaria também automaticamente pecando contra a lei moral, terceiro mandamento, „não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão“ (Êxodo 20:7)
b) Se a filha de um sacerdote se casasse com um estrangeiro e comesse das ofertas das coisas sagradas estaria pecando contra a lei cerimonial (Levítico 22:12 em ligação com Malaquias 2:11)) e ao mesmo tempo pecando também contra o quinto mandamento da lei moral, “honra a teu pai e a tua mãe para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá” (Êxodo 20:12) Não era esta desobediência um vexame e uma desonra para um pai sacerdote, líder religioso dos judeus?
c) Se um judeu, ao invés de sacrificar animais ao Senhor erigisse um altar a Baal, estaria pecando contra a lei cerimonial e a lei moral. Os animais da lei cerimonial sacrificados a um outro deus implicaria também em pecado contra o primeiro mandamento da lei moral que diz “Não terás outros deuses diante de mim”. (Êxodo 20:7).
d) Se um israelita furtasse alguma coisa de alguém que já tivesse morrido e não encontrasse um parente próximo para pagar uma compensação estaria sob o rigor da lei cerimonial. Deveria fazer plena restituição com acréscimo de vinte por cento diretamente ao sacerdote trazendo um carneiro para fazer expiação deste pecado. (Números 5:6-8). Um procedimento cerimonial para um pecado contra o oitavo mandamento da lei moral: “Não furtarás”. (Êxodo 20:15)
e) Quando um judeu cometia um homicídio culposo pecava contra o sexto mandamento da lei moral que diz “não matarás”. Mas tinha que cumprir um ritual do código civil fugindo para alguma cidade de refúgio onde o vingador do sangue não o poderia atacar. Os vários tipos de leis interligados.
f) Quando uma mulher casada adulterava ou estava sob suspeita de adultério (pecado contra a lei moral) o marido a trazia ao sacerdote para um longo ritual. (lei cerimonial). Oferta de farinha de cevada, oferta de cereais de ciúmes, água santa num vaso de barro misturada com pó do chão do tabernáculo. A mulher então soltava o cabelo, punha a mão sobre a farinha e bebia a água amarga fazendo juramentos perante o Senhor. (Levítico 5:11 a 31 principalmente o verso 29). 
Novamente a lei moral e a lei cerimonial andando juntas até a cruz.
Quando Jesus morreu no calvário o véu do Templo se rasgou de cima em baixo. Neste instante a lei cerimonial foi cravada na cruz. Caducava o velho concerto. Daquele momento em diante todos os crentes passariam a viver sob a nova aliança.
Dízimo é lei cerimonial, tema do velho concerto.
Você conhece algum texto bíblico que instrua o povo de Deus a pagar dízimos após a ressurreição de Cristo?
Tome sua Bíblia e leia atentamente os três primeiros capítulos de Malaquias e veja que o contexto inteiro está fundamentado na lei cerimonial:

CAPÍTULO 1 VERSO 7: Pães imundos sobre o altar.
CAPÍTULO 1 VERSO 8: Animais cegos, coxos e doentes sobre o altar.
CAPÍTULO 1 VERSO 10: Fogo debalde no altar do Senhor.
CAPITULO 1 VERSO 11: Incenso e oblação pura.
CAPÍTULO 1 VERSO 12: Mesa impura e comida desprezível.
CAPÍTULO 2 VERSO 3: Esterco do sacrifício.
CAPÍTULO 2 VERSOS 4 e 8: Aliança com Levi.
CAPÍTULO 2 VERSO 13: Altar do Senhor com lágrimas e choro.
CAPÍTULO 3 VERSO 4: Ofertas de Judá como nos dias antigos.
CAPÍTULO 3 VERSO 8: Dízimos e ofertas alçadas.
CAPÍTULO 3 VERSO 14: Andar em luto.
Como podemos agora tomar o texto de Malaquias, extrair a porção contida nos versos 8-10 do capítulo 3 e fazer uma aplicação de roubo de dinheiro para os cristãos de nossa época? 
Os ladrões do livro de Malaquias são outros e eles não estão roubando dinheiro!

MALAQUIAS 3:8-10 NÃO É PARA VOCÊ!
O leitor atento notará que Malaquias 3:8-10 pertence a um grande texto com início no capítulo 2 verso 1 estendendo-se até o verso 18 do capítulo 3. (Faz-se necessário ler todo o texto para se captar o contexto).

Atente para o primeiro verso do capítulo 2. Para quem é a dura mensagem? Para os sacerdotes, é claro! “Agora, ó sacerdotes, este mandamento é para vós”. A mensagem é para os sacerdotes e não para nós. Eles é que estavam roubando a Deus, e ainda eram bem hipócritas. Veja as ligações do contexto:
a) Em que nos amaste? (1:1)
b) Em que desprezamos? (1:6)
c) Em que te havemos profanado? (1:7)
d) Em que o enfadamos? (2:17)
e) Em que havemos de tornar? (3:7)
f) Em que te roubamos? (3:8)
Mesmo o trecho “vós a nação toda” (Mal. 3:9) é dirigida a eles. É uma hipérbole, uma figura de linguagem que Malaquias usou querendo dizer: “Tá todo mundo roubando”.
Entretanto, mesmo que toda a nação estivesse roubando a Deus, a responsabilidade ainda era dos sacerdotes conforme declarado no verso 8 do capítulo 2: “Mas vós vos desviastes do caminho, a muitos fizestes tropeçar na lei.”
A Bíblia contém mensagens específicas para determinadas pessoas. Não podemos tomá-las e sair por aí aplicando-as às nossas vidas.
Imaginemos um cristão sincero chegando em casa aflito depois de um sermão. Então, veementemente, conclama a esposa e aos filhos para arrumarem as malas pois terão que mudar daquela casa, daquele bairro, daquela cidade já! Para onde irão? Para onde Deus mostrar! Por quê? Ordem bíblica: “Sai da tua terra, da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei” (Gênesis 12:1). Isto não seria uma loucura? É bom que fique bem claro que esta ordem foi dada por Deus especificamente ao patriarca Abraão. Ele deveria se mudar de casa, de cidade, de país. Ele e não nós.
Se aplicarmos o mesmo raciocínio para a ordem que Deus deu a Moisés logo, logo veremos alguns cristãos loucos conversando com pedras pois Deus lhe disse: “Fala à Rocha” (Números 20:8).
É para nós este mandamento? Devemos sair por aí dialogando com os rochedos? Ou deveria alguém começar a construir uma arca só porque a Bíblia ordenou a Noé “Faze para ti uma arca de madeira” (Gênesis 6:14)?

Quando Deus fala com Abraão é com Abraão. Quando Ele fala com Moisés é com Moisés. Com Noé, Noé. Com sacerdotes, sacerdotes. É claro que a Bíblia está repleta de grandes conselhos que podemos e devemos tomar para nós, mas precisamos submetê-los aos princípios hermenêuticos adequados.
Dizer que Malaquias 3:8-10 é uma mensagem para os cristãos do século XXI é uma fraude exegética. Deus estava dizendo que os judeus do velho concerto eram ladrões! Mas afinal, o que eles estavam roubando?

OS DÍZIMOS DE MALAQUIAS SÃO ALIMENTOS
O dízimo citado em Malaquias 3:8-10 não é dinheiro. É alimento. Em coerência com todos os demais textos bíblicos sobre o assunto, dízimo aqui é MANTIMENTO.
O povo trazia animais perfeitos para a casa do tesouro e, provavelmente os sacerdotes corruptos estivessem roubando os animais sãos e oferecendo em seu lugar animais defeituosos. Malaquias afirma categoricamente que os animais eram roubados! (Mal. 1:8 e 13).
Como o dízimo tinha três utilidades básicas: ser consumido pelo próprio dizimista perante o Senhor (Deut. 14:23), sustentar o clero (Num. 18:24) e socorrer os necessitados (Deut. 14:28,29), todos saíam perdendo. Os sacerdotes estavam roubando a adoração à Deus. Impediam ao povo cultuar a Deus conforme as instruções contidas na Lei de Moisés . Eles estavam roubando a glória de Deus. (Mal.2:7-9).

O ritual dos dízimos estava diretamente ligado à liturgia, aos procedimentos de culto e à adoração. No momento em que os sacerdotes desqualificaram o culto, eles e a nação toda mergulharam no obscurantismo religioso. Sem luz os outros pecados eram uma questão de tempo. Desonestidade (2:10); hipocrisia (2:13); adultério (2:14,15 e 16); roubo (1:13).

Advertências ao clero aparecem em outros trechos da Bíblia. Em Ezequiel 34:1-10 lemos: “Filho do homem, profetiza contra os pastores de Israel... Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos. Não apascentarão os pastores as ovelhas? Comeis a gordura e vestis-vos de lã. Degolais o cevado, mas não apascentais as ovelhas. A fraca não fortalecestes, a doente não curastes... a desgarrada não tornastes a trazer e a perdida não buscastes, mas dominais sobre elas com rigor e dureza... As minhas ovelhas andam desgarradas por todos os montes... Portanto, ó pastores, ouvi a palavra do Senhor...”

Precisamos compreender que o clero corrupto sempre existiu! As mais duras mensagens da Bíblia são para eles e não para nós. Até o texto de Apocalipse 3:14-22 é mal interpretado. O endereçamento da advertência é claro: "Ao anjo da igreja de Laodicéia". Ao anjo da igreja. Aos administradores da igreja de Laodicéia.

Tome uma Bíblia na linguagem de hoje e confira.
A Bíblia Viva traz: “Ao líder da igreja de Laodicéia”. Portanto, especialmente os líderes religiosos correm o risco de serem vomitados da boca do Senhor. Eles são os principais mornos. São eles os grandes “nem quentes e nem frios”. Os “coitados, miseráveis, pobres, cegos e nus”. Precisam urgentemente comprar ouro puro, vestes brancas e colírio. Mas, infelizmente suas atitudes são do tipo “rico somos e estamos enriquecidos, e de nada temos falta!”.
Roubará o homem a Deus? Dinheiro não! Ninguém está roubando o dinheiro de Deus quando se abstém de dar para a igreja dez por cento de seus salários. Os que adoram a Deus hoje o fazem em espírito e em verdade. Quem deixa de entregar à igreja dez por cento de sua renda não está cometendo nenhum furto. Não existe esta possibilidade! O texto de Malaquias 3:8-10 foi completamente distorcido para se chegar a uma teologia tão esdrúxula.

A casa do tesouro estava sem mantimento porque era administrada por sacerdotes desonestos. A casa do tesouro, um enorme compartimento do Templo destinado à armazenagem da comida santa, passava por problemas administrativos. Malaquias então se levanta e envia uma dura mensagem ao clero judaico. 
Roubar a Deus é deixar os órfãos, as viúvas e os pobres sem comida. Malaquias coloca estes criminosos no mesmo patamar dos feiticeiros e adúlteros. (Mal. 3:5). Os dízimos do Senhor estavam sendo desviados das bocas destes excluídos para as “contas bancárias” dos sacerdotes corruptos. Por isso a ordem: “Trazei todos os dízimos”. Uma boa parte não estava chegando ao Templo e o Senhor dos Exércitos enviaria as maldições.

A IGREJA NÃO É A CASA DO TESOURO
Os defensores da doutrina do dízimo interpretam muito mal o texto de Malaquias 3:10 afirmando que Casa do Tesouro corresponde à Igreja (Associação) e que os dízimos são dez por cento de nossas rendas. A contextualização é feita da seguinte forma:
DÍZIMO = DEZ POR CENTO DOS SALÁRIOS.
CASA DO TESOURO = IGREJA (ASSOCIAÇÃO)
MINHA CASA = IGREJA (ORGANIZAÇÃO)
MANTIMENTO = COMIDA (DINHEIRO)

Mas, não se pode tomar um versículo bíblico e aplicar técnicas de contextualização em apenas parte dele. Se DÍZIMO, CASA DO TESOURO e MINHA CASA foram contextualizados logo MANTIMENTO também precisa sofrer a mesma regra..

Ou deixamos o texto inteiro na sua forma literal ou contextualizamos tudo. É por isso que MANTIMENTO em Malaquias 3:10 contextualizado significará A PALAVRA DE DEUS, o pão espiritual, e nunca o pão literal, o sustento do clero, o arroz e o feijão que os pastores compram no supermercado!

Vejamos um outro exemplo:

”O Senhor é o meu Pastor, nada me faltará. Deitar-me faz em verdes pastos. Guia-me mansamente às águas tranqüilas” Salmo 23:1,2.

Contextualização:

PASTOR = Líder espiritual. Aquele que nos conduz com segurança pelos caminhos da vida.
DEITAR = Descansar pela fé. Depor nossos fardos.
VERDES PASTOS = A Palavra de Deus. A alimentação providenciada pelo Pastor.
ÁGUAS TRANQUILAS = A água viva que acaba com a sede do espírito. (João 4:13,14)
Imaginemos agora alguém dizer que Jesus é o nosso líder espiritual (PASTOR), aquele que nos faz descansar pela fé (DEITAR) e nos alimenta com a Palavra (VERDES PASTOS). É ele também o Deus maravilhoso que nos concede um litro de água mineral bem gelada para mitigar a nossa sede. Que contextualização descabida é esta que se aplica apenas à uma parte do verso? A expressão “águas tranqüilas” não pode ter aplicação literal isolada. Não é H2O.

Desta forma, Malaquias 3:10 contextualizado na versão da Bíblia na Linguagem do Dinheiro ficaria assim: “Trazei DEZ POR CENTO DE VOSSOS SALÁRIOS à ASSOCIAÇÃO para que haja A PALAVRA DE DEUS na IGREJA.”
Ora, a Palavra de Deus pode ser comprada? Se sim, em que termos? Por hora, por dia, por capítulo ou versículo? A vista ou a prazo? Com cheque, dinheiro ou cartão de crédito? E as igrejas que não têm dinheiro? Ficarão sem a Palavra de Deus? E aqueles que têm muito dinheiro? Poderão adquirir mais “Palavra de Deus” que os seus irmãos mais pobres? A quem será paga esta Palavra? Bancando o salário do clero estaremos automaticamente pagando a “Palavra de Deus?”
E as igrejas sem pastores como serão? Ficarão sem a Palavra?

EU O SENHOR NÃO MUDO (Mal. 3:6)
Os homens tentaram modificar a palavra de Deus, mas note que inserido no próprio texto do profeta Malaquias, antes das instruções dizimistas dos versos 8 a 10 do capítulo 3, Deus declara que Ele não muda. Uma importante advertência aos que pretendem modificar o sentido da mensagem adaptando-a a interesses financeiros.

Deus não muda porque os dízimos em Malaquias continuam tendo ligação com à agricultura, com os frutos da vide, com o mantimento.

Mas, para os obedientes, a benção. Benção detalhada no verso 11 do capítulo 3. Observe bem a descrição bíblica. A benção é prometida àqueles que trouxessem os dízimos à casa do tesouro (e a quem deixasse de roubá-los). Toda a bênção é de conseqüência agrícola.
“Repreenderei o devorador, para que não vos consuma o fruto da terra. A vossa vide no campo não será estéril, diz o Senhor dos Exércitos.”
O que fazem os dizimistas? Tomam a última parte do verso 10 que antecede o texto acima e mudam o sentido da benção. “E depois fazei prova de mim, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar uma bênção tal, que dela vos advenha a maior abastança”.
Ora, abrir as janelas dos céus é oferecer boas condições climáticas, chuvas, para que a colheita fosse farta. Era um assunto especificamente destinado aos dizimistas agricultores. Pessoas ligadas à terra! Os outros profissionais judeus, pescadores, carpinteiros, padeiros, guardas, nada tinham a ver com esta briga!


Como então dizer que o devorador aqui é o diabo? Que o fruto da terra são nossos empregos? Que a abastança é dinheiro, prosperidade?

É triste a situação daqueles que sempre dão dez por cento de seus salários para a igreja e ficam aguardando indefinidamente pela benção da abastança. Quando ela não vem eles re-interpretam o texto dizendo que a abastança citada por Malaquias é saúde, paz, amor e esperança.

Ainda falando do “devorador”:
Muitos tem pregado que o Dízimo é uma “proteção” das finanças contra o demônio chamado “devorador”. Este devorador, é bom que se diga que não se trata de um “demônio”como muitos dizem. Isto é um erro grosseiro de interpretação da Bíblia. Vamos analisar:

No verso 11 fala de um devorador na forma de “juízo de Deus”, são pragas nas plantações. O contexto deste verso está, além das passagens anterior e posterior a este versículo, também em Dt 28:38 onde este “gafanhoto” faz parte dos “castigos da desobediência”, veja: “Lançarás muita semente ao campo; porém colherás pouco, porque o gafanhoto a consumirá.” Isto é uma das muitas conseqüências da desobediência do povo de Israel se caso desobedecesse os mandamentos do Senhor. 
Para verificar que este gafanhoto é um instrumento de juízo do Senhor, veja também em Joel 1:4 e principalmente Amós 7:1, veja este último o que diz: “Isto me fez ver o Senhor Deus; eis que ele formava gafanhotos ao surgir o rebento da erva serôdia; e era a erva serôdia depois de findas as ceifas do rei.” Note a relação “Desobediência e Juízo de Deus como conseqüência”.
Uma cadeia de equívocos interpretativos ocorre, pois quando lemos estes quatro versos (8, 9 ,10 e 11) com a devida atenção fica claro que o contexto é de bênçãos materiais e não espirituais. Abastança! Colheita farta! Frutos na vide! Sem devorador! Sem gafanhotos destruindo as lavouras. O tema é benção material e não saúde, paz, amor e esperança!

Deus não muda e uma desilusão hermenêutica poderá levar a outros erros em série. O fim será uma forte decepção com a religião e com Deus que nenhuma culpa tem neste processo. Mudaram o texto. Distorceram as palavras de Malaquias! Mas o nosso Deus continua sempre o mesmo!

ADVERTÊNCIA FINAL
Já que os nossos líderes religiosos querem tomar para si a aplicação do texto de Malaquias, sugerimos que absorvam primeiramente a grande mensagem contida no capítulo 2 verso 7: “Pois os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens procurar a instrução, porque ele é o mensageiro do Senhor dos Exércitos.”.
Os líderes tem a responsabilidade de guardar e de manter o conhecimento. Pastores e líderes devem passar para o povo a instrução correta, pois são os depositários da verdade. Precisam parar de ensinar heresias, distorcendo textos aqui e acolá. Os "sacerdotes" modernos precisam assumir o papel de mensageiros do Senhor dos Exércitos. Não podem enganar os filhos de Deus. Onde está a coragem sacerdotal para dizer à igreja toda a verdade do livro de Malaquias? “Mas vós desviastes do caminho e a muitos fizestes tropeçar...” Mal 2:8
Quanto a nós cristãos membros comuns da igreja, não somos ladrões. Não estamos furtando a Deus. Estamos livres em Cristo vivendo felizes sob o novo concerto. A graça de Jesus já nos libertou destes dogmas. Altar de incenso, circuncisão, dízimos são temas do velho concerto. Nós vivemos numa outra época. “Cada um contribua segundo o seu coração. Não com tristeza ou por necessidade, pois Deus ama o que dá com alegria”. (II Cor. 9:7).
A superstição criada pela doutrina do dízimo não condiz com a mensagem de liberdade do novo concerto. A crença de que seremos amaldiçoados se não dermos dez por cento de nossos salários à igreja é um engodo e tanto. Superstição. Simplesmente superstição. Não importa qual seja o ritual.
Algumas pessoas usam ferraduras atrás da porta, outros andam com folhas de arruda sobre a orelha e muitos cristãos dão dízimos de seus salários para afastar as maldições de Malaquias.
A superstição é uma ferramenta perfeita nas mãos de líderes religiosos. Sempre foi assim. Na idade média as pessoas acreditavam que comprando indulgências escapariam do purgatório indo diretamente para o céu. Quanto dinheiro o clero medieval não amealhou durante séculos explorando a crendice supersticiosa de milhões de sinceros!

Hoje líderes religiosos árabes enganam jovens humildes com a “Doutrina da Guerra Santa”. Eles criaram a superstição que garante o Céu aos muçulmanos que morrerem em combate. Ser um homem bomba suicida é lucro. É passaporte garantido para o paraíso eterno.


Também foi uma tola superstição como esta que fez aquele pobre paralítico “mofar” 38 anos às margens do tanque de Betesda. Ele e os demais acreditavam que um anjo de vez em quando aparecia por ali e mexia a água. O primeiro doente a pular dentro do tanque ficava curado. Superstições! Superstições!

Hoje, cristãos sinceros deixam de comprar gêneros de primeira necessidade para pagar dízimos às suas igrejas. Põe dez por cento de seus salários num envelope, lançam-no na salva de ofertas e saem aliviados. “Agora Deus vai me abençoar. Já cumpri minha parte”. A superstição é tão forte que alguns chegam a pagar dízimos com cheques pré-datados afim de se livrarem da maldição de Malaquias.
A SUPERSTIÇÃO é a contramão da GRAÇA. A superstição manda cumprir exigências a fim de se livrar das conseqüências. A graça já nos fez conseqüências. Somos a conseqüência do amor de Deus. Ele tomou a iniciativa e cravou a lei cerimonial na cruz declarando que somos livres!
Aconteceu com os discípulos e acontecerá com você. Embora fossem judeus não eram judeus. Você consegue imaginar Pedro, Tiago e João pagando dízimos ao Templo, a instituição corrompida que matou Jesus?

Eles eram homem livres. Os rebentos do novo concerto. Tinham um ministério de auto-sustentação descompromissado com o sistema judaico. O único discípulo de Jesus a ganhar dinheiro da “Obra” (do Templo) foi Judas Iscariotes. Os sacerdotes pagaram-lhe trinta moedas pela traição fatal. Coincidência ou não, era ele também um grande ladrão!
E os pais da Igreja o que pensavam sobre o assunto?
*Irineu. Considerou o dizimar uma lei judaica que não se requer dos cristãos, porque os cristãos receberam a “liberdade” e devem dar sem constrangimento externo ( Haer. 4,18,2)
*Orígines. Considerou que o dízimo era algo que deveria ser ultrapassado, de longe, pelos cristãos nas suas distribuições. ( In num. Hom. 11).
*Justino Mártir. Observa que cada domingo “aqueles que prosperaram e tem esse desejo, contribuem, cada um na quantidade que quiser. E aquilo que for coletado é depositado com o presidente, e ele cuida dos órfãos e das viúvas, e dos necessitados... e daqueles que estão presos e dos forasteiros que habitam entre nós” (1 Apol. 67; cf. também Apost. Const 2, 27).
Sendo assim para os antigos pais da Igreja, o dízimo era coisa do passado, agora um novo principio para as dádivas os guiava, e os impulsionava a compartilhar- a bondade de Deus e a compulsão interna do espírito santo.
E o que diz a História?

O dízimo foi reintroduzido na Igreja como meio de sustentar o clero através de um decreto do rei Carlos Magno (785 d.c) Já não davam ao povo uma opção 2013 eram tributados para o sustento da igreja quer gostassem, quer não. Antes não existia essa pratica na Igreja segundo a história nos relata.



E o que diz o novo testamento?

É surpreendente descobrir, que em nenhuma ocasião, o dízimo é mencionado em nenhuma das instruções dadas à igreja. Jesus mencionou escribas e fariseus que dão o dízimo, mas nunca mandou seus discípulos darem o dízimo. O escritor aos hebreus se refere a Abraão que pagou os dízimos, e a Levi que pagou seu dízimo a Melquisedeque através de Abraão. Mas nunca ensinou seus leitores a seguirem o exemplo deles.

Paulo escreve acerca do repartir as posses materiais para cuidar das necessidades dos pobres ( 1 co 16:1-3; 2 co caps 8-9; ef 4: 28) e para sustentar o ministério cristão (1 co cap. 9). Insiste na generosidade e a recomenda (2 co 9: 6; 8:1-5) mas nunca exige, nenhuma só vez, como mandamento da parte de Deus, que qualquer montante específico seja dado. A totalidade do vocabulário especial de Paulo acerca das contribuições (Charis,=Graça, 1 co 16: 3, coynonia= comunhão,2 co 8:4; diakonia= serviço,2 co 8:4,9:1; eulogia=louvor, benção 2 co 9:5, e seu ensino explícito sobre o assunto (romanos 15:25-28;1 co 9:8-18;2 coríntios caps 8-9) indicam que, para o cristão a contribuição é voluntária ,um ato da livre vontade, o compartilhar não compulsório das suas posses materiais, sem montante estipulado como seria uma taxa ou um dízimo.


Autor da exegese: Marcelo Siqueira Barreiros
------------------------------------------------------------------------------

Anexo 2
Análise - Abraão e Jacó dando dízimos


Há duas passagens Bíblicas que falam de um dízimo sendo dado antes que a Lei fosse instituída no Sinai. As passagens envolvem Abraão e Jacó, dois dos patriarcas de Israel.
A primeira a ser analisada é sobre Abraão, Gênesis 14:17-20: "E o rei de Sodoma saiu-lhe ao encontro (depois que voltou de ferir a Quedorlaomer e aos reis que estavam com ele) até ao Vale de Savé, que é o vale do rei. E Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; e era este sacerdote do Deus Altíssimo. E abençoou-o, e disse: Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, o Possuidor dos céus e da terra; E bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos. E Abrão deu-lhe o dízimo de tudo. [Todas as citações são da Almeida Corrigida Fiel]"
Nesta passagem, somos ditos que Abraão deu um dízimo a Melquisedeque, presumivelmente como uma expressão de gratidão a Deus por capacitar-lhe e conceder-lhe resgatar seu sobrinho Ló, que tinha sido levado cativo.
Aqueles que crêem que o dízimo é mandatório para os crentes do Novo Testamento argumentam que, uma vez que o dízimo foi praticado antes que a Lei Mosaica fosse dada, ele forçosamente também tem que ser praticado depois da Lei Mosaica (que tem sido feita obsoleta pelo estabelecimento do Novo Pacto, através do sacrifício de Cristo) (He 8:13).
No entanto, antes que cheguemos a qualquer decisão dura e apressada, olhemos de mais perto o texto [acima] e façamos algumas observações pertinentes:

- Não há nenhuma evidência neste texto de que dizimar foi ordenado por Deus. De fato, tudo no texto nos leva a crer que dar o dízimo foi, completamente, uma decisão e [livre] escolha de Abraão. Como tal, foi completamente voluntária. Diga-se também que o dízimo, na Lei, de modo algum era voluntário, mas sim obrigatório a todo o povo de Deus.
- Ademais, este é o único dízimo que as Escrituras mencionam que Abraão jamais deu [em toda a sua vida]. Não temos nenhuma evidência de que dizimar era sua prática geral [habitual, constante].
- Ainda mais, este dízimo proveio do despojo da vitória que Abraão adquiriu por poderio militar (Hb 7:4). O dízimo exigido sob a Lei Mosaica era sobre o lucro da colheita, dos frutos e dos rebanhos, e para ser dado em uma base anual - não o despojo de uma vitória militar!

Sobre Jacó, Gênesis 28:20-22: “E Jacó fez um voto, dizendo: Se Deus for comigo, e me guardar nesta viagem que faço, e me der pão para comer, e vestes para vestir; E eu em paz tornar à casa de meu pai, o SENHOR me será por Deus; E esta pedra que tenho posto por coluna será casa de Deus; e de tudo quanto me deres, certamente te darei o dízimo.”
Jacó, nesta passagem, está fazendo um voto em resposta a uma visitação que recebeu de Deus, em um sonho. Neste sonho, Jacó viu uma escada alcançando o céu, com os anjos de Deus subindo e descendo por ela. No sonho, Deus estava de pé, acima da escada, e disse a Jacó "... Eu sou o SENHOR Deus de Abraão teu pai, e o Deus de Isaque; esta terra, em que estás deitado, darei a ti e à tua descendência; E a tua descendência será como o pó da terra, e estender-se-á ao ocidente, e ao oriente, e ao norte, e ao sul, e em ti e na tua descendência serão benditas todas as famílias da terra; E eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei tornar a esta terra; porque não te deixarei, até que haja cumprido o que te tenho falado." (v. 13-15).
Em resposta, Jacó fez o voto que, se Deus guardasse Sua promessa, ele, por sua vez, daria a Deus um dízimo. Novamente, em semelhança ao exemplo de Abraão, parece que este dízimo foi voluntário da parte de Jacó. Se ele de fato começou a dizimar [a Bíblia não o registra] depois que Deus cumpriu a promessa que lhe fez, Jacó ainda adiou o dizimar por 20 anos! [até depois da volta a Canaã.]
Estes dois são os únicos exemplos de dizimar que podem ser encontrados no Velho Testamento antes da Lei ser dada. Ambos são exemplos de “algo voluntário”, e nenhum desses dois exemplos dizimar foi pedido por Deus. Em nenhum dos personagens [Abraão e Jacó, que deram estes dois dízimos], vemos um exemplo de dizimar como uma prática geral [habitual, constante] de suas vidas. De fato, na vida de Abraão, parece que temos um dízimo como algo que ele só deu uma única vez em sua vida, e foi [um dízimo] dos despojos de uma vitória militar, dado a um sacerdote de Deus. Se nossa única evidência para obrigar crentes sob o Novo Pacto a dizimarem se apóia nestas duas passagens de Gênesis, parece-me que estamos nos apoiando em um fundamento muitíssimo inseguro!
Fonte: Brian Anderson - Milpitas Bible Fellowship, 1715 E. Calaveras Blvd, Milpitas, Ca 95035,
Traduzido por Helio de Menezes Silva, visite solascriptura-tt.org

Outro comentário sobre Abraão e Jacó darem o dízimo:
Os dois exemplos do dízimo antes da lei (em Gênesis) foram eventos únicos e voluntários, envolvendo mais do que dinheiro. O exemplo de Abraão foi o do dízimo entregue uma vez apenas, dos despojos de uma guerra (Hebreus 7:2; Gênesis 14:20). Visto como Abraão havia feito um voto de não tomar pessoalmente qualquer despojo dessa guerra, (Gênesis 14:22-24), aparentemente ele dizimou o que pertencia aos outros... ou o que poderia depois lhe pertencer. Nada existe na Escritura dizendo que Abraão tenha dado o dízimo de sua renda ou riqueza, em tempo algum.
Abraão recebeu uma bênção e em seguida deu o dízimo, aparentemente fora de um hábito social, sem qualquer mandamento divino para fazê-lo. (Gênesis 14 e Hebreus 7:1).
O exemplo único de Jacó [de dizimar] foi prometido SE Deus fizesse algo por ele, e a Escritura não esclarece se Jacó de fato o cumpriu (Gênesis 28:22). De qualquer maneira, estes dois exemplos esclarecem que o dízimo antes da lei não era obrigatório, mas voluntário. Visto como a Escritura só registra incidentes dessa uma única vez em que o dízimo foi dado (antes da lei), fica claro que essa não era uma prática rotineira... Também, tendo em vista que Jacó prometeu dizimar o que ele já possuía e lucrava (quer dizer, possuía totalmente, não em crédito ou mercadoria baseados em hipóteses), entende-se que ele pretendia dizimar sobre os lucros. Isso é importante.
Os que procuram tornar o dízimo estritamente baseado em dinheiro, obrigatório e rotineiro, afirmando ter ele existido “antes da lei”, não estão ensinando como ele realmente foi dado, “antes da lei”. Notem ainda as seguintes escrituras mostrando a natureza voluntária de como se ofertava antes da lei (Êxodo 35:5, 21, 22, 24, 29).
Alguns mestres da obrigação de dizimar usam as Escrituras exigindo que se TRAGA, em vez de DAR o dízimo, a fim de provar que este é obrigatório. Como veremos mais tarde, o dízimo na lei era obrigatório, enquanto as passagens que mencionam o dízimo ANTES DA LEI dizem que este era DADO.
Algumas considerações sobre Melquisedeque
Muito tem sido criado sobre o misterioso Rei de Salém (Jerusalém), em Gênesis 14, pelos mestres do dízimo obrigatório. A realidade [porém] é que, no tempo de Abraão, dizimar era uma prática pagã e um hábito voluntário especial de aceitar uma regra criada. Usar o argumento de que o dízimo é hoje obrigatório porque Abraão o deu a Melquisedeque é ridículo, pelas seguintes razões:
- Primeira, Abraão dizimou voluntariamente os despojos de guerra, não a sua riqueza pessoal.
- Segunda, não havia qualquer ordem dada por Deus no sentido dele dizimar.
- Terceira, Abraão já havia sido abençoado pela vitória que Deus lhe dera (Hebreus 7:2; Gênesis 14:20,22,24). Nada existe na Escritura que diga ter sido a bênção sobre Abraão o resultado do seu dízimo.
- Quarta, o dízimo de Abraão foi um exemplo único.
A questão do sacerdócio de Melquisedeque é puramente judaica. Não é assunto gentílico, visto como os gentios nada tinham a ver com o sacerdócio levítico. Foram os judeus que tiveram problema em aceitar Cristo como o Sumo Sacerdote, porque Ele era da Tribo de Judá e não da Tribo de Levi, da qual os judeus haviam sido doutrinados que os sacerdotes deveriam sair. Essa é a razão do autor de Hebreus ter discutido amplamente o assunto em sua Epístola. Os judeus, obviamente, não podiam entender o sacerdócio de Cristo e o autor de Hebreus tentou explicá-lo. [....] Lembrem-se que os levitas pagavam o dízimo do dízimo aos sacerdotes. O autor de Hebreus tentou explicar aos judeus que a Tribo de Levi ainda não havia nascido, estava no seio de Abraão e que eles, de fato, pagaram o dízimo ao sacerdócio eterno de Melquisedeque, ao qual pertencia Cristo, para assim reconhecer, mesmo indiretamente, o sacerdócio de Melquisedeque. O autor estava tentando mostrar aos judeus que o sacerdócio levítico era ineficiente e temporário, enquanto o de Melquisedeque era eterno e melhor. Os levitas ainda não nascidos, ao pagar o dízimo através de Abraão, não justificam uma doutrina obrigatória do dízimo, pelas quatro razões supracitadas.
É difícil os gentios entenderem estes assuntos, por serem eles basicamente irrelevantes à sua aceitação de Cristo. Os gentios não precisam tornar-se judeus para se tornarem cristãos e Paulo deixou claro ser errado colocar sobre eles o fardo das questões e obrigações judaicas.
Posso garantir que a legítima significação do aparecimento de Melquisedeque em Gênesis 14 é porque Abraão havia arriscado a vida para resgatar o seu sobrinho [Ló]. Este é o primeiro relato bíblico de alguém tentando salvar um homem, com total altruísmo. Lembrem-se que Abraão não poderia reter os despojos de guerra e recusou-se a fazê-lo. Sua única motivação [para essa guerra] foi salvar o sobrinho. Após o registro desse primeiro ato de altruísmo, repentinamente o Rei de Salém aparece com pão e vinho [comunhão]. Abraão passara no teste por ter querido sacrificar-se pelo próximo. Mais tarde, ele estaria concordando em sacrificar o próprio filho [Isaque] e temos aqui novamente um tipo de Cristo em forma de sacrifício e promessa. 
Isso não faz muito mais sentido bíblico do que tentar torcer a Escritura, a fim de fazer parecer que Melquisedeque quis ensinar a obrigatoriedade do dízimo, especialmente em vista dos demais assuntos discutidos neste documento?
Autor: Richard W. Garganta – extraído do Livro“The Truth About Tithing” .
------------------------------------------------------------------------------
Anexo 3
Como era o dízimo no Antigo Testamento?


Que ensina a Bíblia sobre o dízimo sob a Lei Mosaica? Nesta seção do nosso estudo, examinaremos todas as passagens significantes que descrevam o dízimo sob a Lei, nas Escrituras.
Levítico 27:30-33: "Também todas as dízimas do campo, da semente do campo, do fruto das árvores, são do SENHOR; santas são ao SENHOR. 31 Porém, se alguém das suas dízimas resgatar alguma coisa, acrescentará a sua quinta parte sobre ela. 32 No tocante a todas as dízimas do gado e do rebanho, tudo o que passar debaixo da vara, o dízimo será santo ao SENHOR. 33 Não se investigará entre o bom e o mau, nem o trocará; mas, se de alguma maneira o trocar, tanto um como o outro será santo; não serão resgatados."
Note que, nesta passagem, o dízimo é descrito como sendo parte do produto da terra, da semente do campo, do fruto das árvores, do gado, e do rebanho. O dízimo não era o dar dinheiro. Em local algum das Escrituras você encontrará que dizimar era o dar dinheiro para Deus. Ademais, o dízimo era provavelmente dado em uma base anual. Cada ano, depois que a terra tinha sido colhida, as pessoas traziam para os sacerdotes as décimas partes de suas colheitas e do aumento na manada e no rebanho. Daí, penso que podemos imediatamente ver que nossa contribuição semanal (ou mensal) de dez por cento de nossa renda monetária difere muito da prática do dízimo que encontramos na Bíblia.
Números 18:21-24 ["O Dízimo para os Levitas"]: E eis que aos filhos de Levi tenho dado todos os dízimos em Israel por herança, pelo ministério que executam, o ministério da tenda da congregação. 22 E nunca mais os filhos de Israel se chegarão à tenda da congregação, para que não levem sobre si o pecado e morram. 23 Mas os levitas executarão o ministério da tenda da congregação, e eles levarão sobre si a sua iniqüidade; pelas vossas gerações estatuto perpétuo será; e no meio dos filhos de Israel nenhuma herança terão, 24 Porque os dízimos dos filhos de Israel, que oferecerem ao SENHOR em oferta alçada, tenho dado por herança aos levitas; porquanto eu lhes disse: No meio dos filhos de Israel nenhuma herança terão.
Note, neste texto, que o dízimo foi planejado para ser o sustento dos levitas. Uma vez que estes não tinham nenhuma herança [terra para atividade agro-pastoril] na Terra Prometida, tal como a tinham as outras tribos, Deus fez provisão para o sustento deles através do dízimo das outras famílias de Israel. De fato, em Números 18:31 somos ditos "E o comereis em todo o lugar, vós e as vossas famílias, porque vosso galardão é pelo vosso ministério na tenda da congregação." O dízimo foi o pagamento- recompensa que Deus supriu para os levitas, pelos seus serviços sacerdotais. Isto é similar ao sustento que os funcionários do governo recebem hoje no nosso país, através dos impostos e taxas pagos pelo trabalhador comum.
Deuteronômio 14:22-27 ["O Dízimo para o Festival"]: Certamente darás os dízimos de todo o fruto da tua semente, que cada ano se recolher do campo. 23 E, perante o SENHOR teu Deus, no lugar que escolher para ali fazer habitar o seu nome, comerás os dízimos do teu grão, do teu mosto e do teu azeite, e os primogênitos das tuas vacas e das tuas ovelhas; para que aprendas a temer ao SENHOR teu Deus todos os dias. 24 E quando o caminho te for tão comprido que os não possas levar, por estar longe de ti o lugar que escolher o SENHOR teu Deus para ali pôr o seu nome, quando o SENHOR teu Deus te tiver abençoado; 25 Então vende-os, e ata o dinheiro na tua mão, e vai ao lugar que escolher o SENHOR teu Deus; 26 E aquele dinheiro darás por tudo o que deseja a tua alma, por vacas, e por ovelhas, e por vinho, e por bebida forte, e por tudo o que te pedir a tua alma; come-o ali perante o SENHOR teu Deus, e alegra-te, tu e a tua casa; 27 Porém não desampararás o levita que está dentro das tuas portas; pois não tem parte nem herança contigo.
Este texto fala de um dízimo sendo usado para prover para as festas e festivais religiosos de Israel. Números 18:21 nos diz que Deus deu todo o dízimo em Israel para ser a herança para os Levitas. Se todo o dízimo foi dado aos Levitas, então como é que este dízimo (em Dt 14) é dito para ser usado para as festas e festivais religiosos de Israel? A resposta tem que ser que este é um segundo dízimo. O primeiro era usado para o sustento dos Levitas e o segundo para prover para os festivais religiosos, tanto assim que chegou a ser referido como "O Dízimo para o Festival". O povo de Israel devia usar este dízimo para comer na presença do Senhor, em Jerusalém (o local que Ele escolheu para estabelecer seu nome).
Se fosse demasiadamente incômodo para as pessoas de longe trazerem seus dízimos todo o caminho até Jerusalém, seria permitido que elas o vendessem e trouxessem o dinheiro [apurado] até Jerusalém, onde poderiam comprar aquilo de necessidade para os festivais. Deus expressamente encoraja as pessoas a gastarem o dinheiro deles em "tudo o que deseja a tua alma," incluindo bebida forte! O propósito era que o povo de Israel pudesse aprender [ambas as coisas:] a temer o Senhor e a regozijar ante Ele. Note que ter um sentimento de temor do Senhor, e regozijar ante Ele, não são mutuamente exclusivos, mas, na realidade, são complementares, deveriam acompanhar um ao outro! Este "Dízimo Para o Festival" tornou possível ao povo de Israel ter toda a comida e bebida necessárias para que pudesse usufruir gozosamente das festas religiosas de Israel, e adorar ante o Senhor.
Deuteronômio 14:28-29 ["O Dízimo para os Pobres"]: Ao fim de três anos tirarás todos os dízimos da tua colheita no mesmo ano, e os recolherás dentro das tuas portas; 29 Então virá o levita (pois nem parte nem herança tem contigo), e o estrangeiro, e o órfão, e a viúva, que estão dentro das tuas portas, e comerão, e fartar-se-ão; para que o SENHOR teu Deus te abençoe em toda a obra que as tuas mãos fizerem.
Aqui, somos ensinados a respeito de um terceiro dízimo que é coletado a cada terceiro ano. Os comentaristas Bíblicos estão divididos quanto a se este é realmente um terceiro dízimo, em separado, ou apenas é o segundo dízimo usado de um modo diferente, no terceiro ano. O historiador judeu Josephus apóia o ponto de vista de que este foi um terceiro dízimo, em separado. Outros antigos comentaristas judeus têm escrito em apoio a que é [apenas] o segundo [tipo de] dízimo que, a cada três anos, era coletado e usado com outro fim. É impossível se determinar com absoluta certeza quem está certo. De qualquer modo, o povo judeu tinha sido ordenado a dar pelo menos [10 + 10 =] 20 por cento das suas colheitas e rebanhos, e talvez tanto quanto [10 + 10 + 10/3] = 23.3 por cento! Este dízimo particular bem poderia ser chamado "O Dízimo para os Pobres". Não devia ser ajuntado em Jerusalém, mas nas aldeias. As pessoas de cada aldeia deviam trazer uma décima parte de suas colheitas e rebanhos e ajuntar tudo, para prover para os pobres da aldeia, incluindo os estrangeiros, os órfãos, e as viúvas.
Em muitos aspectos, parece que o dízimo exigido sob a Lei é hoje similar à taxação que o governo impõe sobre nós. Israel era governado por uma teocracia. Sob ela, o povo era responsável por prover para os trabalhadores do governo (os sacerdotes e os levitas em geral), para os dias santificados (festas de alegria ao Senhor), e para os pobres (estrangeiros, viúvas e órfãos).
Neemias 12:44: Também no mesmo dia se nomearam homens sobre as câmaras, dos tesouros, das ofertas alçadas, das primícias, dos dízimos, para ajuntarem nelas, dos campos das cidades, as partes da lei para os sacerdotes e para os levitas; porque Judá estava alegre por causa dos sacerdotes e dos levitas que assistiam ali. Note que o texto diz que os dízimos eram exigências "da Lei".
Estes dízimos não eram voluntários como o foi nas vidas de Abraão e Jacó. Similarmente, lemos em Hebreus 7:5 "E os que dentre os filhos de Levi recebem o sacerdócio têm ordem, segundo a lei, de tomar o dízimo do povo, isto é, de seus irmãos, ainda que tenham saído dos lombos de Abraão." [Indiscutivelmente] o dízimo nunca foi voluntário, sob a Lei de Moisés. Note, aqui, que, nos dias de Neemias, homens eram indicados para ajuntarem as ofertas e os dízimos em câmaras designadas para aquele propósito particular. Estas câmaras eram para os bens armazenados, e depois se tornaram conhecidas como "casas do tesouro". Isto se tornará importante quando olharmos para o nosso próximo texto, em Malaquias 3.
Malaquias 3:8-12: Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. 9 Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, sim, toda esta nação. 10 Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz o SENHOR dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal até que não haja lugar suficiente para a recolherdes. 11 E por causa de vós repreenderei o devorador, e ele não destruirá os frutos da vossa terra; e a vossa vide no campo não será estéril, diz o SENHOR dos Exércitos. 12 E todas as nações vos chamarão bem-aventurados; porque vós sereis uma terra deleitosa, diz o SENHOR dos Exércitos.
Examinemos esta passagem verso por verso, para que dela possamos extrair algumas importantes verdades.
3:8 Este verso nos diz que quando um homem retém seus dízimos ele está roubando, na realidade, a Deus. Isto porque ele está retendo algo que não lhe pertence, antes é propriedade de Deus. Sob o Velho Pacto, o dízimo era mandatório, portanto retê-lo era se tornar um ladrão. Note também que Deus diz que o povo o estava roubando em dízimoS. Ele não disse no "dízimo", mas sim nos "dízimoS" (plural). Estes "dízimos" têm que se referir aos diferentes dízimos requeridos do povo de Deus (o Dízimo para o Levita, o Dízimo para as Festas ao Senhor, e o Dízimo para os Pobres). Adicionalmente, observe que Deus não está condenando o reter apenas dos dízimos, mas também das ofertas. Estas, sem dúvida, referem-se às ofertas especificadas em Levíticos 1-5, tais como a oferta queimada [holocausto], a oferta dos manjares, a oferta de paz, a oferta pelos pecados, e a oferta pelas culpas. Todas estas ofertas eram constituídas, principalmente, de sacrifícios de animais. O suprimento de comida e mantimento para os Levitas era provido, em grande parte, através destes sacrifícios de animais, dos quais os Levitas eram permitidos participar [comendo-os], em certos casos. Uma importante pergunta emerge a este ponto. Por que é que reconhecemos que o sacrifício de animais não é coisa para o Novo Pacto, mas dizemos que o dízimo o é? Se estivéssemos sob a obrigação de pagar dízimos hoje, então, certamente, ainda estaríamos obrigados a oferecer sacrifícios de animais. Deus amarrou um ao outro (os dízimos e os sacrifícios), e disse que Seu povo O estava roubando por reter a ambos. Não podemos decidir "pegar e escolher" qual dos dois ofereceremos a Deus, hoje. Das duas uma: [a] estamos sob a obrigação de oferecer ambos, tanto dízimos como ofertas de animais (sacrifícios), ou ambos [dízimo e sacrifício] têm sido abolidos pela ab-rogação da Lei Mosaica.
3:9 Aqui, somos ditos que, como o povo de Israel estava retendo os dízimos e ofertas, conseqüentemente estava amaldiçoado com uma maldição. Note que o verso não diz "Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, sim, toda a humanidade." Ao contrário, diz "Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, sim, toda esta nação." Se dizimar fosse um mandamento moral e eterno para todos os povos de todos os tempos, então todos estes estariam sob maldição. Mas nosso texto somente diz que é toda nação de Israel que estava sob a maldição. Agora, o que é interessante sobre esta "maldição" é que, em Deuteronômio 28, somos ditos que se Israel, sob a Lei Judaica, desobedecesse os mandamentos de Deus, então a nação seria amaldiçoada. Note os seguintes textos: Deuteronômio 28:18 "Maldito o fruto do teu ventre, e o fruto da tua terra, e as crias das tuas vacas, e das tuas ovelhas. 23 E os teus céus, que estão sobre a cabeça, serão de bronze; e a terra que está debaixo de ti, será de ferro. 24 O SENHOR dará por chuva sobre a tua terra, pó e poeira; dos céus descerá sobre ti, até que pereças. 38 Lançarás muita semente ao campo; porém colherás pouco, porque o gafanhoto a consumirá. 39 Plantarás vinhas, e cultivarás; porém não beberás vinho, nem colherás as uvas; porque o bicho as colherá. 40 Em todos os termos terás oliveiras; porém não te ungirás com azeite; porque a azeitona cairá da tua oliveira. E todas estas maldições virão sobre ti, e te perseguirão, e te alcançarão, até que sejas destruído; porquanto não ouviste à voz do SENHOR teu Deus, para guardares os seus mandamentos, e os seus estatutos, que te tem ordenado;" (Dt 28:18, 23-24, 38-40, 45). Nestes versos, Deus adverte que, se o Seu povo desobedecesse Seus mandamentos e estatutos, então as ceifas dele falhariam, as chuvas não viriam, as colheitas seriam pequenas, a locusta [tipo de grilos ou gafanhotos] consumiria a comida, e o fruto das árvores falharia.
3:10 Nesta passagem, Deus fala da "casa do tesouro". Com base em Neemias 12:44, sabemos que isto se refere às câmaras no Templo, postas à parte e designadas para guardar os dízimos dados pelo povo para o sustento dos sacerdotes [e a todos os demais levitas]. Não existe sequer um fiapo de evidência de que devemos associar estas "casas do tesouro" aos prédios das igrejas para os quais os crentes do Novo Pacto devem trazer seus dinheiros. Ademais, a razão pela qual Israel devia trazer todos os dízimos para dentro da casa do tesouro era que houvesse [bastante] alimento na casa de Deus. Deus estava interessado em que os levitas tivessem comida para comer. Este era o propósito daqueles dízimos que eram trazidos para o Templo de Deus. Somos ditos, também, que se o povo de Deus fosse fiel em trazer seus dízimos para a casa do tesouro, Deus abriria as janelas do céu e derramaria para eles uma bênção até que transbordasse. Isto sem dúvidas refere-se à promessa de Deus de trazer abundantes chuvas para produzir a bênção de uma transbordante ceifa.
3:11 Neste verso, Deus promete que se Israel trouxer os dízimoS [e as ofertaS], Ele repreenderá o devorador para que não destrua o fruto da terra. Sem dúvidas, o "devorador" é uma referência às locustas que Deus adverte que virão sobre os campos de Israel se o povo falhar em trazer o dízimo (Dt 28:38; vide acima).
3:12 Neste verso, Deus graciosamente promete que, se Israel for obediente no dar os seus dízimoS e ofertaS, todas as nações a chamarão abençoada. É interessante que Deus não apenas advertiu Israel de que seria amaldiçoada se desobedecesse a Lei Mosaica, mas também prometeu que seria abençoada se a obedecesse. Note estes textos, "1 E será que, se ouvires a voz do SENHOR teu Deus, tendo cuidado de guardar todos os seus mandamentos que eu hoje te ordeno, o SENHOR teu Deus te exaltará sobre todas as nações da terra. 2 E todas estas bênçãos virão sobre ti e te alcançarão, quando ouvires a voz do SENHOR teu Deus; (Dt 28:1-2). 4 Bendito o fruto do teu ventre, e o fruto da tua terra, e o fruto dos teus animais; e as crias das tuas vacas e das tuas ovelhas. 8 O SENHOR mandará que a bênção [esteja] contigo nos teus celeiros, e em tudo o que puseres a tua mão; e te abençoará na terra que te der o SENHOR teu Deus. 11 E o SENHOR te dará abundância de bens no fruto do teu ventre, e no fruto dos teus animais, e no fruto do teu solo, sobre a terra que o SENHOR jurou a teus pais te dar. 12 O SENHOR te abrirá o seu bom tesouro, o céu, para dar chuva à tua terra no seu tempo, e para abençoar toda a obra das tuas mãos; e emprestarás a muitas nações, porém tu não tomarás emprestado." (Dt 28:1-2, 4, 8, 11-12). Aqui, Deus prometeu abençoar Israel materialmente, se ela fosse obediente. A promessa inclui abundantes colheitas, copiosas chuvas, e grandes aumentos nas manadas e nos rebanhos.
Portanto, é minha convicção que as bênçãos e maldições escritas em Malaquias 3:8-12 referem-se às bênçãos materiais que Deus prometeu a Israel, se ela obedecesse seus mandamentos e estatutos. Dizimar foi um destes mandamentos.
Portanto, que podemos concluir sobre o dízimo, sob a Lei Mosaica? Penso que, com segurança, podemos concluir que o dízimo não tinha nada a ver com o dar dinheiro regularmente, numa base semanal ou mensal, mas, ao contrário, tinha a ver com a adoração a Deus conforme ordenada no tempo do Velho Pacto. O mandamento para dizimar, tal como os mandamentos para não comer camarão nem ostras, tornou-se obsoleto e foi colocado de lado, pela inauguração do Novo Pacto, na morte de Cristo. O dízimo foi o sistema de impostos e taxas ordenado por Deus sob o sistema teocrático do Velho Testamento.
Se alguém deseja dizimar realmente [literalmente] de acordo com as Escrituras, teria que fazer o seguinte:
1) Deixar seu trabalho e comprar uma terrinha, de modo que possa criar seu gado e plantar e colher [grãos, verduras e frutas].
2) Encontrar algum descendente de Leví, para sustentá-lo [e este a um descendente do levita Arão (que realmente seja sacerdote, no Templo, em Jerusalém)].
3) Usar suas colheitas para observar as festas religiosos do Velho Testamento (tais como Páscoa, Pães Asmos, Pentecostes, Tabernáculos) [quando, como e onde Deus ordenou. Literalmente];
4) Começar por dar pelo menos 20 por cento de todas as suas colheitas e rebanhos a Deus; e
5) Esperar que [com toda certeza] Deus amaldiçoe sua nação [em oposição ao próprio crente] com [grande] insuficiência material, se ela for infiel, ou a abençoe com [grande] abundância material, se for fiel.
Penso que todos nós concluiríamos que isto é completamente absurdo! Todos reconhecemos que Cristo tem abolido o sacerdócio levítico, os sacrifícios de animais, e as festas religiosas, em Cristo. Bem, se isto é verdade, por que estamos tentando segurar [i.é manter] o dízimo, que foi parte e parcela de todas essas ordenanças do Velho Testamento?

Autor: Brian Anderson
- Milpitas Bible Fellowship, 1715 E. Calaveras Blvd, Milpitas , Ca 95035,Traduzido por Helio de Menezes Silva, visite solascriptura-tt.org