retirado do site Bereianos - Apologética Cristã Reformada
Reconheço
que existe uma maldição na vida de alguns crentes que devemos quebrar. E
esta maldição é a “quebra de maldições hereditárias” propriamente dita.
Algo que está impregnado em muitas igrejas pelo Brasil e pelo mundo
afora.
Para abordar esse tema, gostaria de
colocar um pouco de minha vida para justificar que eu vivi esta
realidade no passado. Portanto, conheço bem os parâmetros colocados
pelos defensores desta prática.
Eu me converti em uma igreja onde é
praticada a quebra de maldições hereditárias, fui ensinado com base
nesta doutrina e durante alguns anos também preguei a mesma para muitas
pessoas, até mesmo ministrei cultos de quebra de maldições hereditárias.
Mas eu sempre questionei sobre a
autenticidade desta doutrina, pois apesar de ter aprendido em minha
igreja (na época) sobre a necessidade de se quebrar maldições
hereditárias e também ministrar sobre isto, sempre quando me deparei com
algumas passagens bíblicas eu ficava com muita dúvida. A bíblia diz em II Co 13:8 que
“nada podemos contra a verdade se não pela verdade”. Portanto, não
podemos ir contra a Bíblia jamais. Ela é a nossa única regra de fé e
conduta. E a Bíblia estava me confrontando...
Um exemplo de passagem está em
Romanos 14:12, onde diz: “Assim, pois, cada um de nós dará contas de si
mesmo a Deus”. Como poderia alguém fazer quebra de maldições de
antepassados se cada um de nós prestará contas de si mesmo á Deus?
Outra passagem que sempre me deixava preocupado é Romanos 8:1, diz: “Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.” Como posso ter alguma condenação de maldição se estou em Cristo?
Mais uma passagem, 2 Co 5:17: “E
assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura: as cousas antigas já
passaram; eis que se fizeram novas”. Se estamos em Cristo e tudo se fez
novo, as coisas antigas já passaram, como poderei ter maldições sobre a
minha vida?
E o que dizer desta passagem: "E a
vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela
incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando
todos os nossos delitos; tendo cancelado o escrito de dívida que era
contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial,
removeu-o inteiramente, encravando na Cruz." Cl 2:13-14
Diante destas e outras passagens que
veremos a seguir, acabou por me deixar com muitas dúvidas, nas quais me
levou a buscar um aprofundamento teológico sobre este assunto. O
conteúdo do estudo e a conclusão que eu cheguei você verá a seguir.
O EVANGELHO DA MALDIÇÃO
Uma das distorções doutrinárias mais
difundidas entre o povo de Deus ultimamente é o ensino das “maldições
hereditárias”, conhecido também como “maldição de família ou “pecado de
geração”. Estes conceitos circulam bastante através da televisão, rádio,
literatura e seminários nas igrejas. Muitos líderes, ministérios e
igrejas, antes sólidos e confiáveis, acabaram sucumbindo a mais esse
ensino controvertido e importado dos Estados Unidos.
Os pregadores da maldição afirmam
que se alguém tem algum problema relacionado com alcoolismo,
pornografia, depressão, adultério, nervosismo, divórcio, diabete,
câncer e muitos outros, é porque algum antepassado viveu aquela situação
ou praticou aquele pecado e transmitiu tal pecado ou maldição a um
descendente. A pessoa deve então orar a Deus a fim de que lhe seja
revelado qual é a geração no passado que o está afetando. Uma vez que se
saiba qual, pede-se perdão por aquele antepassado ou pela geração
revelada e o problema estará resolvido, isto é, estará desfeita a
maldição.
Marilyn Hickey, autora
norte-americana e que já esteve várias vezes no Brasil em conferências
da Adhonep (Associação de Homens de Negócios do Evangelho Pleno),
promove constantemente este ensino. Note suas palavras:
Se você ou algum de seus
ancestrais deu lugar ao diabo, sua família poderá estar sob a “Maldição
Hereditária”, e esta se transmitirá a seus filhos. Não permita que sua
descendência seja atingida pelo diabo através das maldições de geração.
Os pecados dos pais podem passar de uma a outra geração, e assim
consecutivamente. Há na sua família casos de câncer, pobreza,
alcoolismo, alergia, doenças do coração, perturbações mentais e
emocionais, abusos sexuais, obesidade, adultério’? Estas são algumas das
características que fazem parte da maldição hereditária nas famílias.
Contudo, elas podem ser quebradas!
Um dos textos bíblicos mais usados pelos pregadores da maldição hereditária para defender este ensino é Êxodo 20:4-6: “Não
farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em
cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra.
Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o SENHOR teu Deus,
Deus zeloso, que visito a iniqüidade dos pais nos filhos até à terceira e
quarta geração daqueles que me aborrecem, e faço misericórdia até mil
gerações daqueles que me amam e guardam os meus mandamentos”.
É preciso que se leve em
consideração o assunto do texto aqui citado. De que trata, afinal, tal
passagem? Alcoolismo, pornografia, depressão, ou problemas do gênero? É
óbvio que não. O texto fala de idolatria e não oferece qualquer base
para alguém afirmar que herdamos maldições espirituais de nossos
antepassados em qualquer área das dificuldades humanas.
A narrativa do Antigo Testamento nos
informa que sempre que a nação de Israel esteve num relacionamento de
amor com Deus, ela não podia ser amaldiçoada. Vemos a prova disso em
Números 23:7, 8, quando Balaque pediu a Balaão que amaldiçoasse a
Israel. A resposta de Balaão aparece no versículo 23: “Pois contra Jacó não vale encantamento, nem adivinhação contra Israel”. Por outro lado, sempre que a nação quebrou a aliança de amor com Deus, ela ficou exposta a maldição, calamidades e cativeiro.
É verdade que os filhos que repetem
os pecados de seus pais têm toda a possibilidade de colher o que seus
pais colheram. Os pais que vivem no alcoolismo têm grande possibilidade
de ter filhos alcoólatras. Os que vivem blasfemando, ou na imoralidade e
vícios, estão estabelecendo um padrão de comportamento que, com grande
probabilidade, será seguido por seus filhos, pois “aquilo que o homem semear, isso também ceifará” (Gl
6:7). Isso poderá suceder até que uma geração se arrependa, volte-se
para Deus e entre num relacionamento de amor com ele através de Jesus
Cristo. Cessou aí toda a maldição. Não deve ser esquecido também que o
autor da maldição ou punição é Deus e que ela é a manifestação da sua
ira. Note que, no final do versículo cinco do capítulo vinte de Êxodo, a
Palavra de Deus declara que a maldição viria apenas sobre aqueles que
aborrecem a Deus, algo que não se passa com o cristão.
A Bíblia ensina uma responsabilidade individual pelo pecado, como pode ser observado no livro do profeta Ezequiel:
“Veio a mim a palavra do SENHOR,
dizendo: Que tendes vós, vós que, acerca da terra de Israel, proferis
este provérbio, dizendo: Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos
filhos é que se embotaram? Tão certo como eu vivo, diz o SENHOR Deus,
jamais direis este provérbio em Israel. Eis que todas as almas são minhas; como a alma do pai, também a alma do filho é minha; a alma que pecar, essa morrerá” (Ez 18:1-4). Seria o mesmo que afirmar nos dias atuais: os pais comeram chocolate e os dentes dos filhos criaram carie.
O capítulo 18 de Ezequiel dá a
entender que havia se tornado um costume em Israel colocar a culpa dos
fracassos pessoais nos antepassados ou em outros. Isso
faz lembrar o que aconteceu no jardim do Éden, quando, por ocasião da
Queda, o homem colocou a culpa na mulher e a mulher na serpente. Parece
ser próprio do ser humano não admitir seus erros, buscando evasivas para
não tratá-los de forma responsável à luz da Palavra de Deus.
Infelizmente, alguns acham mais fácil culpar os antepassados do que
enfrentar suas tentações.
O ensino da maldição de família mais
escraviza do que liberta. Até crentes que há vários anos viviam
alegres, evangelizando, servindo ao Senhor e dando frutos, agora estão
preocupados, deprimidos, pensando que talvez as tentações, as
dificuldades e lutas pelas quais estão passando sejam de fato reflexo de
pecados ou do comportamento dos seus ancestrais. Não faz muito tempo,
numa grande igreja pentecostal, um diácono, que havia participado de um
desses seminários para quebra de maldições hereditárias, me procurou
para aconselhamento. Tal irmão encontrava-se confuso e deprimido com as
informações que recebera e queria saber o que a Bíblia tinha a dizer
sobre tudo isso. Depois de uns dez minutos de conversa, ele respirou
aliviado. Temos encontrado e ajudado a muitos outros em situações
semelhantes pelos lugares por onde passamos, em diferentes partes do
Brasil.
Ora, todo cristão é tentado, de uma
forma ou de outra, uns mais, outros menos. Se um cristão enfrenta
problemas em relação à pornografia, ao alcoolismo, ao adultério, à
depressão ou a qualquer outro aspecto ligado às tentações, os métodos
para vencer tais lutas devem ser bíblicos. O caminho para a vitória tem
muito mais a ver com a doutrina da santificação, com o cultivo da vida
espiritual através da oração, do jejum, da comunhão saudável numa
determinada parte do Corpo de Cristo e do contato constante com a
Palavra de Deus. O ensino da quebra de maldições hereditárias aparece
como um atalho mágico e ilusório para substituir a doutrina da
santificação, que é um processo indispensável a ser desenvolvido pelo
Espírito Santo na vida do cristão, exigindo dele autodisciplina e
perseverança na fé.
DOENÇA OU MALDIÇÃO?
Um outro aspecto incorreto desse
ensino é confundir as doenças transmitidas por herança genética com
maldições hereditárias espirituais. Isto pode ser observado nas
declarações de Marilyn Híckey:
Será que você já observou uma
família na qual todos os membros usam óculos? Desde o pai e a mãe até a
criança menor, todos estão usando óculos, e geralmente os do tipo de
lentes grossas. Essas pobres criaturas estão debaixo de uma maldição, e
precisam ser libertas.
Não se pode construir uma doutrina
em cima de uma observação, experiência ou somente porque uma família
toda usa óculos! Existem muitas famílias em que apenas um ou outro
membro usa óculos. O que aconteceu? Por que só alguns herdam a maldição e
outros não? E se as doenças são maldições transmitidas de pais para
filhos através dos genes (geneticamente), por que os pregadores dessa
doutrina não quebram, por exemplo, a maldição da calvície, transmitida
geneticamente? Até hoje não há notícia de que alguém tenha feito isso.
O Senhor Jesus nunca ensinou tal doutrina. Quando perguntado sobre o cego de nascença: “Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?”, ele respondeu: “Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus”
(Jo 9:2-3). Alguns usam este texto para afirmar que os discípulos
acreditavam na maldição de família, procurando dar assim legitimidade a
tal ensino. É preciso lembrar que os discípulos nem sempre estiveram
certos no período de treinamento que passaram juntos a Jesus. Certa vez,
em alto-mar, quando Cristo se aproximava, eles pensaram ser ele um
fantasma (Mt 14:26). Felizmente, os discípulos estavam errados em suas
conclusões, pois eram humanos, sujeitos a erros. É óbvio que não erraram
quando falaram e escreveram inspirados pelo Espírito Santo. Quanto ao
cego de nascença, Jesus destruiu qualquer superstição ou crença que os
discípulos pudessem ter de que a cegueira fora provocada pelos pecados
de seus antepassados, e o próprio Jesus nunca ensinou tal doutrina.
Tal ensino não encontrou espaço
também nos escritos do apóstolo Paulo. Ao contrário, quando escreveu aos
coríntios pela segunda vez, declarou com muita certeza: “E assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura: as cousas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2 Co 5:17). Aos efésios, ele afirma: “Bendito
o Deus e pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com
toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo” (Ef 1:3). Onde existe espaço para maldições na vida de um cristão diante de uma declaração como esta?
Paulo não se deixou prender ao passado. Quando escreveu aos crentes de Filipos, declarou: “Irmãos,
quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma cousa faço:
esquecendo-me das cousas que para trás ficam e avançando para as que
diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana
vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fp.3:13, 14).
É importante observar a sugestão do apóstolo Paulo a Timóteo, quando lhe escreveu a primeira carta: “Não continues a beber somente água; usa um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas freqüentes enfermidades”
(1 Tm 5:23). Paulo nunca insinuou que a enfermidade de Timóteo fosse
uma maldição de seus antepassados, pois sabia que Timóteo vivia numa
natureza afetada pela desobediência dos primeiros país (Adão e Eva).
Apesar de o Reino de Deus estar entre nós, ele ainda não chegou à sua
plenitude, pois até a criação geme, aguardando ser redimida do cativeiro
da corrupção (Rm 8: 19-23). Paulo apenas sugeriu que Timóteo tomasse um
pouco de vinho como um remédio para suas freqüentes enfermidades
estomacais e não que fizesse a quebra das maldições hereditárias.
A CONVERSÃO É A SOLUÇÃO
Ensinar que um cristão tem que
romper com maldições ou pactos dos antepassados pedindo perdão por eles é
minimizar o poder de Deus na conversão. Isso está mais para o
espiritismo ou mormonismo (com sua doutrina anti-bíblica do batismo
pelos mortos) do que para o cristianismo. A Bíblia declara com muita
ousadia: “Por isso também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles”
(Hb 7:25). O advérbio “totalmente” (panteles, no grego) tem o sentido
de pleno, completo e para sempre. Jesus não salva em prestações, mas de
uma vez por todas.
Marilyn Híckey chega a afirmar que: “Você pode decidir quanto ao destino exato da sua linhagem. Eles ou vão para Jesus, ou vão para o diabo”.
Nada poderia estar mais longe da verdade. Quantos filhos há que hoje
vivem uma vida cristã exemplar, são cheios do Espírito Santo, enquanto
seus pais permanecem alheios ao Evangelho, rejeitando constantemente a
palavra de salvação e até tentando dificultar-lhes a vida espiritual!
Comigo também foi assim. Ai de mim se fosse esperar meu pai decidir
sobre o meu futuro espiritual. Não sei onde estaria hoje.
É claro que os pais têm grande
influência na formação espiritual dos filhos, mas o milagre da salvação é
obra de Deus, e é pela graça que somos salvos (Ef 2:8, 9). É o Espírito
Santo, o Consolador, quem convence o coração do pecado, da justiça e do
juízo, como o próprio Senhor Jesus disse (Jo 16:7, 8). Paulo relatou
aos gálatas que foi Deus quem lhe revelou seu Filho (Gl 1:15, 16).
Assim, a salvação é uma revelação de Jesus Cristo em nossos corações, e
não algo decidido somente pelos pais.
Observe o que aconteceu com os
filhos de Samuel, um profeta de Deus e um homem íntegro, como pode ser
observado em 1 Samuel 3:19 e 12:3. Apesar da integridade do pai, a
Bíblia diz que seus filhos não andaram pelos caminhos dele:
“antes se inclinaram à avareza, e aceitaram subornos e perverteram o direito” (1 Sm 8:3).
Veja os reis de Israel e Judá. A
narrativa do Antigo Testamento revela que muitos deles foram ímpios e
tiveram filhos piedosos, enquanto outros foram piedosos e tiveram filhos
ímpios. Eis alguns exemplos: Abias foi mau (1 Rs 15:3), mas seu filho
Asa “fez o que era reto perante o SENHOR” (1 Rs 15:11). Jotão “fez o que era reto perante o SENHOR” (2 Rs.15:34), porém Acaz, seu filho, “não fez o que era reto perante o SENHOR” (2 Rs 16:2). Jeosafá agradou a Deus (2 Cr 17:1-4), enquanto Jeorão, seu filho, “fez o que era mau perante o SENHOR” (2
Cr 2 1:6). Assim, a seqüência de bondade ou maldade que deveria suceder
na linhagem dos reis de Israel e Judá, de acordo com o que ensinam os
pregadores da maldição de família simplesmente não aconteceu. A esses
exemplos certamente não se poderia aplicar o provérbio: “Tal pai... tal filho”.
Inspirado pelo Espírito Santo, Paulo
escreveu aos irmãos de Corinto, na sua primeira carta, uma palavra
tremendamente elucidativa quanto a esta questão: “Ou não sabeis que
os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros,
nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem
ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores
herdarão o reino de Deus. Tais fostes alguns de vós; mas vós vos
lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados, em o nome do
Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus” (1 Co 6:9-11; leia também Gl.5:17-21).
Pode-se notar que Paulo não afirmou no versículo onze:
“Mas haveis quebrado as maldições hereditárias, mas haveis pedido perdão pelos pecados dos antepassados”
ou algo similar. Não, de modo algum, este não é o seu pensamento. Paulo
afirma que aqueles que estiveram presos nos pecados haviam sido
lavados, haviam sido santificados e justificados, sem qualquer
necessidade de quebrar maldições dos antepassados.
Cabem aqui algumas perguntas: Qual é
a maior das maldições? Sem dúvida é estar fora de Cristo. Qual a maior
das bênçãos? Certamente é o estar em Cristo. Como se elimina a maior das maldições? Introduzindo a maior das bênçãos.
Os pregadores da maldição
hereditária não deveriam pedir perdão pelos pecados da décima, nona,
oitava ou de qualquer outra geração, mas deveriam, sim, pedir perdão
pelos pecados de Adão e Eva, pois se houve brecha, foi ali, na queda do
jardim do Éden, onde as maldições tiveram início. Ali está a raiz do
problema. Isso, sim, seria um trabalho perfeito e completo. O leitor já
imaginou se funcionasse? De repente, ninguém mais precisaria trabalhar
para ganhar o pão, a mulher não sofreria mais ao dar à luz e os espinhos
desapareceriam da Terra. É claro que não funciona, pois tal ensino não
tem base na Palavra de Deus.
TEXTOS MAL INTERPRETADOS
Espíritos Familiares
Para defender o ensino da maldição
hereditária, seus pregadores usam a expressão “espíritos familiares”,
tradução de Levítico 19:31 e de outras passagens na Bíblia em inglês do
Rei Tiago (King James Version). Observe o comentário de Marilyn Hickey
quanto a isso:
O que são “espíritos familiares”?
São maus espíritos decaídos que se tornaram familiares numa família.
Eles a seguem, com suas fraquezas — pecado físico, mental, emocional —
por todo caminho, atacando e tentando cada membro seu naqueles aspectos,
pois estão cientes de suas inclinações. “Marilyn, como é que você sabe
disso?” Porque o Antigo Testamento fala acerca dos “espíritos
familiares” (Versão King James).
Usando o mesmo argumento, um certo autor comenta:
Nas traduções em português,
usamos as palavras necromantes, adivinhadores e feiticeiros. Mas em
inglês usa-se o termo espíritos “familiares” e é esta a base bíblica que
temos para demonstrar que estes espíritos de adivinhação, necromancia e
feitiçaria passam de geração em geração. Há
um acompanhamento, por parte destes demônios, sobre as famílias. E eles
transmitem os mesmos vícios, comportamentos e atitudes de que temos
falado.
Defender um ensino controvertido com
base na tradução de uma Bíblia em inglês (Versão do Rei Tiago) é algo
inaceitável à luz da hermenêutica e da exegese bíblica. É preciso ter em
mente que a Bíblia Sagrada não foi escrita em inglês. Para
se entender o texto bíblico, é necessário que se faça a tradução e
interpretação com base na língua em que ele foi escrito. No caso do
Antigo Testamento, o hebraico, e não o inglês. Ao afirmar: “Mas em
inglês se usa o termo espíritos familiares, e é esta a base bíblica que
temos para demonstrar que estes espíritos de adivinhação, necromancia e
feitiçaria passam de geração em geração”, o autor demonstra exatamente o contrário: não ter base bíblica para tal ensino.
Robert L.Alden, Ph.D., professor do
Velho Testamento no Seminário Teológico Batista Conservador de Denver,
Estado do Cobrado, nos Estados Unidos, esclarece:
A palavra ‘ob (original hebraico) aparentemente se refere àqueles que consultavam os espíritos, pois 1 Samuel 28 descreve alguém assim em ação. A
famosa “feiticeira” de Endor é uma ‘ob. Ao povo de Deus foi ordenado
ficar longe de tais ocultistas (Levítico 19:31). A punição por se
envolver com tais “médiuns” era morte por apedrejamento (Levítico
20:27). Naturalmente ‘ob é incluída na lista de abominações semelhantes
em Deuteronômio 18:10,11. Todas essas ocupações têm a ver com o
ocultismo. Isaías desconsidera estes “necromantes” e sugere, pela sua
escolha de palavras, que os sons dos espíritos assim emitidos não são
nada mais do que ventriloquismo: “os necromantes e os adivinhos que
chilreiam e murmuram” (Isaías 8:19).
É importante observar ainda que a
Septuaginta (a versão grega do Antigo Testamento) emprega o termo
eggastrímithoi (ventríloquo) para traduzir a palavra ‘ob de Levítico
19:31. A Bíblia informa em 1 Samuel 28:3 que Saul havia banido de Israel
os adivinhos e os encantadores e não os espíritos familiares. Assim, a
palavra hebraica ‘ob significa o “vaso” ou instrumento dos espíritos,
portanto o médium ou necromante, conforme aparece na maioria das
traduções da Bíblia, não oferecendo tal vocábulo base para quebra de
maldições hereditárias na vida do cristão.
A crença de que a violência é
provocada por espíritos familiares também não tem base bíblica. O
apóstolo Paulo foi um homem violento. A Bíblia diz que “Saulo, porém, assolava a igreja, entrando pelas casas, e, arrastando homens e mulheres, encerrava-os no cárcere”
(At 8:3). O apóstolo João, antes de se tornar o discípulo do amor, não
hesitava em dar vazão à sua ira. Certa vez ele chegou a desejar que
caísse fogo do céu para consumir os samaritanos que se recusaram a
receber Jesus (Lc 9:52-54). Como abandonou Paulo sua violência e João
deixou de ter um espírito ou temperamento vingativo? Sem dúvida, através
da conversão e do viver com Cristo foi que eles foram transformados e
libertos, e não através da quebra de maldição de família, algo que nunca
fez parte de seus escritos.
ARVORE GENEALÓGICA
Embora haja quem sugira às pessoas
para que desenhem árvores genealógicas a fim de facilitar a quebra das
maldições, tal prática não encontra apoio na Bíblia. É verdade que
encontramos genealogias nos Evangelhos de Mateus e de Lucas, as quais
tinham a intenção de apresentar a linhagem de Jesus como o Messias de
Israel. Não há, depois disso, em todo o Novo Testamento, preocupação com
tal ensino. Ao contrário, o apóstolo Paulo até recomendou a Timóteo e a
Tito que não se envolvessem com esse assunto (1 Tm 1:4 e Tt 3:9). Os
mórmons, sim, na tentativa de resolver os problemas espirituais de seus
falecidos através do batismo pelos mortos (uma prática antibíblíca),
gastam muito tempo e dinheiro com genealogias, contrariando assim as
Escrituras Sagradas.
Há os que dizem que devemos pedir
perdão pelos pecados de P. C. Farias e de políticos acusados como
corruptos. Outros estão sugerindo que, ao se encontrar uma pessoa negra
na rua, deve-se chegar a ela e pedir perdão pelos pecados dos que
promoveram a escravidão no Brasil. Há até aqueles que afirmam que os
carros roubados no Brasil e levados ao Paraguai são uma maneira de Deus
fazer os brasileiros pagarem aos paraguaios pelo mal que lhes fizeram em
guerras passadas. Que absurdo!
Os que isto sugerem gostam de citar
as orações de Esdras (capítulo nove), Neemias (capítulo nove) e Daniel
(capítulo nove), em que eles fizeram confissão a Deus, citando os
pecados de seus antepassados. Sabemos que as bênçãos do antigo pacto
eram condicionadas à obediência do povo de Israel. Quando desobedecia,
as maldições de Deus vinham sobre ele. Esdras, Neemias e Daniel de fato
reconheceram o pecado de seus antepassados, mas pediram perdão pelos
pecados do presente, da geração atual. Embora seja possível alguém
sofrer as conseqüências dos pecados de terceiros, o mesmo não acontece
com a culpa. A Palavra de Deus não culpa ninguém pelos pecados dos
outros. A Bíblia em nenhum lugar ensina a interceder por quem já morreu,
uma vez que após a morte segue-se o juízo, não oração ou pedido de
perdão pelos mortos (Hb 9:27).
É preciso lembrar ainda que, à luz
da Bíblia, ninguém pode se arrepender por outra pessoa. O arrependimento
é algo pessoal, que se faz diante de Deus. A idéia de que “temos que
até interceder, pedir perdão por pecados que aqueles antepassados
cometeram, e quebrar os pactos que fizeram”, contradiz a Palavra de
Deus, que afirma: “Assim, pois, cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus” (Rm 14:12).
PROVÉRBIOS 26:2
Eis aqui outro texto freqüentemente
mal usado pelos pregadores da maldição de família. Allen P Ross comenta
que era comum acreditar que as bênçãos e as maldições tinham existência
objetiva — uma vez proferidas, produziam efeito. Ele acrescenta: “As
Escrituras esclarecem que o poder de amaldiçoar e de abençoar depende do
poder daquele que está por trás dele (por exemplo, Balaão não pôde
amaldiçoar o que Deus havia abençoado; Nm 22:38 e 23:8). Este provérbio
realça a correção da superstição. A Palavra do Senhor é poderosa porque é
a Palavra do Senhor — ele a cumprirá”. Nota-se então que não existe
base para se usar tal texto a fim de defender a transferência de
maldições de geração em geração.
MALDIÇÃO DE NOMES PRÓPRIOS
É o que ensina o livro Bênção e Maldição quando afirma:
A verdade é que há nomes próprios
que estão carregados de maldição —já trazem prognóstico negativo (...)
Por isso não convém dar aos nossos filhos nomes que tenham conotação
negativa, que expressem derrota, tristeza, dureza: Maria das Dores, Mara
(amargura), Dolores (dor e pesar), Adriana (deusa das trevas), Cláudio
(coxo, aleijado), Piedade, Aparecida (sem origem, que não se sabe de
onde veio).
Este é mais um ensino que vem
acrescentar cargas desnecessárias sobre os crentes que passam a
acreditar nele. Existem muitas pessoas hoje vivendo preocupadas devido
ao nome que receberam ao nascer, algo sobre o que não tiveram controle e
nem escolha. E, de novo, não há base bíblica para isso.
É verdade que há na Bíblia alguns
nomes de pessoas que corresponderam às suas personalidades e às
circunstâncias em que viveram. O próprio Deus mudou o nome de Abrão para
Abraão, que significa “pai de uma grande multidão”. (“A mudança
de Abrão para Abraão teve por fim reforçar a raiz da segunda sílaba para
dar maior ênfase à idéia de exaltação”, J. D. Davis, Dicionário da
Bíblia, p. 11.) O nome de Jacó foi ligado à “usurpador”, e ele assim se
comportou por um bom período de sua vida (ver estudo "falácia da
maldição nos nomes") , O legislador de Israel recebeu o nome de Moisés
por que foi salvo das águas. Contudo, não se pode criar uma regra
baseada em tais exemplos pelas razões que veremos em seguida.
A Bíblia está cheia de exemplos de
pessoas ímpias com nomes de bons significados, enquanto outras são boas,
mas com nomes de significados nada recomendáveis. Veja o caso de Abias,
que quer dizer “Jeová é pai”, filho de Samuel, um homem de Deus. Apesar
de ter um bom nome e um bom pai, a Bíblia diz que ele não andou nos
caminhos de Samuel e se corrompeu (1 Sm 8:3).
Já Absalão quer dizer “pai da paz”.
Embora tendo um nome tão pacífico, ele tentou usurpar o trono de seu pai
Davi, teve uma vida turbulenta e morreu de forma trágica (2 Sm.3:3;
13-19).
Daniel e seus amigos tiveram os
nomes mudados pelo rei de Babilônia (Dn 1:7). Mesmo depois de receberem
nomes ligados a deuses pagãos, isso não impediu que desfrutassem da
bênção de Deus e permanecessem firmes na fé em Jeová. Logo, pode-se notar que o nome não influiu em nada.
Judas quer dizer “louvor”, um
significado muito piedoso, mas isso não impediu que ele traísse o Senhor
(Mt 26:48,49). Por outro lado, um outro Judas foi fiel e deixou uma
carta escrita no Novo Testamento.
Bar-Jesus é um nome fantástico, que
quer dizer “filho de Jesus”. Apesar do nome, ele era um mágico, um falso
profeta, e resistiu a Paulo quando este pregava ao procônsul Sérgio
Paulo (At 13). Apenas o nome não faz o homem. Se fizesse, as prisões no
Brasil não estariam cheias de presidiários chamados de Abel, Moisés,
Isaías, Daniel, Pedro, Lucas, Paulo e outros nomes bíblicos.
Há também homens e mulheres na
Bíblia que serviram a Deus fielmente e foram vencedores na fé cristã,
apesar dos nomes que tiveram com significados nada recomendáveis.
Apolo foi um homem de Deus, poderoso nas Escrituras (At 18:24-28), mas seu nome significa “destruidor”.
Hermes é um dos irmãos a quem Paulo envia saudações cristãs (Rm 16:14), porém seu nome é de um deus mitológico.
O interessante é que Paulo nunca
instruiu esses irmãos para que fizessem oração de renúncia pelos nomes
que possuíam, pois eles terão um novo nome no céu (Ap 2:17).
Alguns crentes até dão testemunho em
público depois de pensar que foram bem-sucedidos ao amaldiçoar uma
pessoa, uma empresa ou organização. Contam, por exemplo, que por não
terem sido bem servidos num restaurante, o amaldiçoaram e o restaurante
faliu. A Bíblia, porém, ensina que o cristão não deve amaldiçoar, mas,
sim, abençoar. Ouçamos o conselho de Paulo: “Abençoai, e não
amaldiçoeis” (Rm 12:14).
Alguns têm dito que a quebra das
maldições hereditárias é bíblica, já que deu certo ou funcionou para um
ou outro. O fato de ter dado certo não quer dizer que seja bíblica. Há
muita coisa que funciona no espiritismo, na umbanda e na Ciência Cristã
que ne m por isso é bíblica. Geralmente, as distorções no seio da Igreja
são muitas vezes baseadas apenas nas experiências, no subjetivo. Ora,
não importa quão maravilhosa tenha sido a experiência; se ela contradiz
as Escrituras e não tem base na Palavra de Deus, deve ser rejeitada,
prevalecendo somente a Bíblia Sagrada, única regra de fé e prática para o
cristão.
PODE UM CRISTÃO TER DEMÔNIOS?
Um dos temas mais polêmicos que a
batalha espiritual tem gerado é se um cristão pode ter demônios. Muitos
ministérios de libertação incluíram algum ritual para expulsar demônios
de crentes em seus programas e isso tem acontecido em simpósios de
batalha espiritual em muitas igrejas. Alguns teólogos também passaram,
nos últimos anos, a aderir a tal posição e muitos deles reconhecem que o
assunto é controvertido. De qualquer forma, a Bíblia Sagrada tem a
palavra final sobre esta questão ou sobre qualquer outro assunto
relacionado com a vida espiritual e o cristão.
Merrill F. Unger, um autor lido e
seguido por várias pessoas que hoje desenvolvem ministérios de
libertação espiritual no Brasil, reconhece a dificuldade de se tratar do
assunto, ao declarar: A verdade da questão é que as Escrituras em
nenhum lugar declaram que um verdadeiro crente não pode ser invadido por
Satanás ou seus demônios. Naturalmente, a doutrina deve sempre ter
precedência sobre a experiência. Nem pode a experiência jamais oferecer
base para a interpretação bíblica. Apesar disso, se experiências
consistentes chocam com uma interpretação, a única conclusão possível é
de que há alguma coisa errada, ou com a própria experiência ou com a
interpretação da Escritura que vai contra ela. Certamente a Palavra
inspirada de Deus nunca contradiz a experiência válida. Aquele que
procura a verdade com sinceridade deve estar preparado para consertar
sua interpretação a fim de traze-la em conformidade com os fatos como
eles são.
Unger já ensinou e escreveu, no
passado, que somente os incrédulos estão sujeitos a endemoninhamento ou
possessão demoníaca. Mais tarde ele mudou de idéia, e diz por que:
Em Biblical Demonology (Demonologia Bíblica), publicado primeiramente em 1952, a
posição tomada era de que somente os incrédulos são expostos ao
endemoninhamento. Mas, através dos anos, várias cartas e relatórios de
casos de invasão demoníaca de crentes têm chegado a mim de missionários
em várias partes do mundo. Como resultado, em meu estudo sobre a
explosão atual do ocultismo intitulado Demons in the World Today
(Demônios no Mundo de Hoje), que apareceu em 1971, a
confissão é feita livremente de que a posição tomada no Biblical
Demonology (Demonologia Bíblica) “foi assim entendida, pois a Escritura
não resolve claramente a questão”.
Há alguns problemas com as
declarações de Unger. Primeiro, ele diz que a Bíblia não afirma com
clareza que um cristão não pode ser invadido por demônios. Ora, se a
Bíblia não diz isso com clareza (o que não é verdade), como pode alguém
então afirmar e ensinar sobre aquilo que não está claro na Palavra de
Deus? Seria o mesmo que tentar ensinar escrever sobre o sexo dos anjos
quando a Bíblia nada fala a questão. Se a Bíblia não é clara sobre a
possessão de crentes, como pode alguém desenvolver então, biblicamente,
uma prática de expulsar demônios de crentes? Simplesmente impossível.
Pode-se perceber também que Unger,
que no passado ensinava que crentes não podiam ficar possessos, depois
mudou de posição. A mudança veio não pela avaliação bíblica, mas, como
ele mesmo conta, através de cartas e relatórios de missionários baseados
em experiências dos campos de missões. Mas Unger não está só ao basear a
possessão de crentes em experiências e não na Bíblia. Veja a opinião de
Bill Subbritzky sobre o assunto: “Pode um cristão ter demônios? A
resposta é enfaticamente sim! Se você tem sido informado de que isso não
acontece, continue lendo e deixe o Espírito Santo guiá-lo nesta
questão. Estou ciente do muito que se tem ensinado a respeito de os
cristãos não poderem ter demônios. Contudo, através de minha experiência
no ministério há quatorze anos, constatei que tal opinião é totalmente
incorreta”.
Uma autora no Brasil demonstra ter também opinião semelhante ao declarar:
Muitos defendem que, uma vez que o
crente é habitação do Espírito (1 Coríntios 6:19), torna-se impossível
um demônio habitar onde o Espírito habita (...) o fato de o nosso corpo
ter-se tornado o templo do Espírito Santo não quer dizer que jamais
poderá ser ocupado por maus espíritos. Não deveria, mas é possível (...)
Todos quantos se envolvem no ministério de libertação testemunham a
manifestação de demônios em cristãos.
Certa líder na área da batalha espiritual segue a mesma linha desses autores e conclui:
Se partirmos do pressuposto de
que os crentes não podem ter demônios ou não podem ficar endemoninhados,
corremos o risco de deixar muitos crentes opressos dentro da igreja,
vivendo uma vida de grande prisão, mornidão, com uma dificuldade
tremenda para crescer. Afinal, o inimigo deseja uma vida cristã
medíocre. E aqui é preciso esclarecer a questão da terminologia usada.
De acordo com dezenas de estudiosos do grego, daimonozomenai significa
“ter demônios” e é melhor traduzido pela palavra “endemoninhado”, nunca
possesso, pois no Novo Testamento não vemos o uso do termo (...)
Endemoninhado tem um significado lato, indicando o estado da pessoa que
tenha um demônio ou até muitos demônios perturbando ou oprimindo sua
vida. Quanto ao local onde ele fica, não é o mais importante. Ele pode
ficar no corpo, fora do corpo, na alma da pessoa.”(Neuza Etioka).
Dois outros autores norte-americanos, John e Paula Sanford, acrescentam também:
Há aqueles que crêem que o
cristão cheio do Espírito Santo não pode ser ocupado pelo poder
demoníaco. Temos descoberto que isto não é um fato histórico, ainda que a
teologia diga que o Espírito Santo e os demônios não podem habitar a
mesma área. E o que tem acontecido. Temos expulsado demônios de centenas
de crentes cheios do Espírito Santo, alguns deles não apenas cheios do
Espírito Santo, mas poderosos servos do Senhor! Como isso acontece eu
não posso explicar, mas tem sido para nós um fato incontestável de
muitos anos de experiência exaustiva.’
Este é o segundo problema de Unger e
é também o problema dos demais autores aqui mencionados: experiência,
experiência, experiência. Na última citação, os autores até informam que
nem sabem explicar como pode acontecer a expulsão de demônios de
crentes, mas continuam levando tal prática adiante.
CRENTES NÃO FICAM POSSESSOS
Não creio na possessão demoníaca em crentes, pelas seguintes razões bíblicas:
1o - razão: o crente é santuário do Espírito Santo. “Acaso
não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo que está em
vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos?
Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no
vosso corpo.” (1 Co 6:19, 20.)
O Espírito Santo não é um visitante esporádico na vida do crente. É morador definitivo, e não se ausenta de sua morada.
Paulo garante que não há possibilidade de convivência entre Cristo (Rm 8:9) e o maligno (Ef 2:2.) “Que harmonia entre Cristo e o maligno?” (2 Co 6:15.)
2o - razão: o Espírito Santo é zeloso pelo seu santuário. “Ou supondes que em vão afirma a Escritura: Ë com ciúme que por nós anseia o Espírito, que ele fez habitar em nós?” (Tg 4:5.).
O Espírito Santo é a pessoa da
trindade santa para a qual Jesus mais reivindicou o nosso cuidado na
análise de fatos ou no evitar de palavras precipitadas. “Por isso vos
declaro: Todo pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens; mas a
blasfêmia contra o Espírito Santo não será perdoada. Se alguém proferir
alguma palavra contra o Filho do homem, ser-lhe-á isso perdoado; mas se
alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será isso perdoado, nem
neste mundo nem no porvir.” (Mt 12:31, 32.)
Atribuir as obras de Jesus ao poder
de Belzebu, o maioral dos demônios, já era pecado e blasfêmia contra o
Espírito Santo, que estava sobre Jesus (Lc 4:18, 19), pois o Espírito
Santo não pode ser veículo usado por Satanás. Diante de tal santidade e
zelo será possível admitirmos que o Espírito Santo permitiria a entrada
de força maligna em seu santuário? Louvado seja o seu nome porque ele
não permite.
3o - razão: o crente é propriedade de Deus. É maravilhosa a declaração, de Paulo em Efésios 1:13, 14: “Em
quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho
da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo
Espírito da promessa; o qual é o penhor da nossa herança até ao resgate
da sua propriedade, em louvor da sua glória.” No verso 14, os crentes são chamados de “propriedade de Deus”.
O sublime de tudo isto é que o Espírito Santo é o “penhor” da nossa
ressurreição futura, ou seja, a garantia de que não estamos órfãos (Jo
14:18) e de que seremos transformados na ressurreição (1 Co 15:52.). A
presença do Espírito Santo em nós é a garantia de que somos propriedade
de Deus.
“Vós, porém, sois raça eleita,
sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a
fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a
sua maravilhosa luz.” (1 Pe 2:9.)
A propriedade é exclusiva. Essa “propriedade” não será loteada e vendida ao diabo.
4o - razão: Jesus é o valente que tomou posse da propriedade.
“Quando o valente, bem armado,
guarda a sua própria casa, ficam em segurança todos os seus bens.
Sobrevindo, porém, um mais valente do que ele vence-o, tira-lhe a
armadura em que confiava e lhe divide os despojos. (Lc 11:21, 22.)”.
O Senhor Jesus veio ao mundo “para destruir as obras do diabo.” (1 Jo 3:8.)
Jesus me fascinou pela sua valentia e
coragem diante da cruz. Essa valentia é a mesma no que diz respeito a
guardar os seus filhos das investidas do diabo na tentativa de
possuí-los.
Jesus é o Senhor absoluto de sua casa (1 Pe 2:5) e de seu tabernáculo (2 Co 5:1), que são os nossos corpos.
5o - razão: O Espírito Santo intercede pelos crentes em suas fraquezas.
“Também o Espírito,
semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar
como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira com
gemidos inexprimíveis.” (Rm 8:26.)
É porque o Espírito Santo perscruta
até mesmo as profundezas de Deus que Ele pode interceder por nós de
acordo com a vontade perfeita do profundo e humanamente insondável
coração de Deus. “Porque, qual dos homens sabe as cousas do homem,
senão o seu próprio espírito que nele está? Assim também as cousas de
Deus ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus.” (1 Co 2:11.)
Davi invocava o Espírito Santo para ajudá-lo a viver na perfeita vontade de Deus. “Ensina-me a fazer a tua vontade, pois tu és o meu Deus; guie-me o teu bom Espírito por terreno plano”.(Sl. 143:10.)!
O cristão não é um super-homem, mas é
superprotegido graças à intercessão do Espírito Santo nas horas de
maior fraqueza e necessidade.
6ª - razão: O imutável amor de Cristo garante a segurança.
“Em todas estas cousas, porém,
somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. Porque eu
estou bem certo de que nem morte, nem vida, nem anjos, nem principados,
nem cousas do presente, nem do porvir, nem poderes, nem altura, nem
profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de
Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.” (Rm 8:37-39.)
O que nos dá segurança é o fato de o amor ser o de Cristo Jesus. Seu amor é sublime e leal, “é forte como a morte” (Ct 8:6) e a sua fidelidade está para além da fidelidade do crente, porque “se somos infiéis, ele permanece fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo”. (2 Tm 2:13.)
“Bem-aventurado o homem que confia no amor de Cristo por sua vida”. A promessa para ele é: “O
Senhor é quem te guarda; o Senhor é a tua sombra à tua direita. De dia
não te molestará o sol, nem de noite a lua, O Senhor te guardará de todo
o mal; guardará a tua alma. O Senhor guardará a tua saída e a tua
entrada, desde agora e para sempre.” (Sl 121:5-7.)
O crente jamais será esquecido pelo amado Senhor Jesus, pois o seu nome está nas palmas de Sua mão. “Acaso
pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que não
se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta viesse a se
esquecer dele, eu, todavia, não me esquecerei de ti. Eis que nas palmas
das minhas mãos te gravei; os teus muros estão continuamente perante
mim.”(Is 49:15, 16.)
O crente pode reivindicar todas as promessas da Palavra de Deus, “Porque
quantas são as promessas de Deus tantas têm nele o sim; porquanto
também por ele é o amém para a glória de Deus, por nosso intermédio” (2 Co 1:20.)
Um filho de Deus jamais ficará possesso por espíritos malignos. Esta é a confiança.
Fonte: [ CACP ]
Esta é a minha conclusão e afirmação
teológica: Não existe maldições hereditárias, muito menos um crente
pode ficar possesso! A afirmativa contrária a esta conclusão é herética,
maligna e carece de respaldo bíblico. Portanto, fujam de pessoas que
pregam estas heresias destrutivas e aprisionadoras. Se você, de fato
estiver em Cristo, o maligno não pode lhe tocar (1 Jo 5.18)!
Soli Deo Gloria!